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    Xico Sá

    Se liga, messiê

    01/03/2014 03h00

    Amigo torcedor, amigo secador, sinto em incomodá-lo, em plena folia do sábado de Carnaval, com essa lenga-lenga tipo David Copperfield de ressaca. É que escrevi aquela singela cartinha endereçada ao messiê Jérôme, cutucando, essencialmente, a insistência com as fan fests, também conhecidas lá na minha terra como festa dos torcedores.

    O secretário-geral da Fifa respondeu. Esta Folha, por apreço e consideração ao direito de resposta, publicou a íntegra, na seção de artigos. Tudo em perfeito clima de embate democrático e cordialidade.

    Concordo plenamente com a frase emblemática do messiê: "Gostaria de lembrá-lo que ninguém forçou o Brasil a sediar a Copa do Mundo de 2014. O Brasil se candidatou e, ao se informar sobre os requisitos, as autoridades prontamente concordaram e assinaram compromissos".

    Falo disso, de outro jeito, não de outro jeitinho, e até de forma mais venenosa, nas minhas mal traçadas. O governo brasileiro, em um momento de deslumbramento e no papel de país da moda –assim se passaram sete anos– assinou o contrato sem ler ou desconsiderando as letrinhas menores que os detalhes tão pequenos de nós dois da canção de Roberto Carlos –nosso cantor mais popular, caro Jérôme.

    Embora sob desconfiança do que poderia ocorrer, messiê, tirei o corvo Edgar da sala –minha agourenta ave de estimação– e torci para que a sede fosse aqui. Como a maioria absoluta dos brasileiros, é óbvio.

    O que se passou de lá para cá, Jérôme, não está no gibi. Nem no gibi do tio Patinhas. Nem no gibi do Zé Carioca. Talvez no gibi dos irmãos Metralhas. É espantoso para um velho repórter, caso deste hoje cronista, que cobriu as tenebrosas transações das empreiteiras brasileiras com o poder público por muito décadas. É espantoso para o leigo, é espantoso para o mais devoto dos Pachecos que acreditou que nada seria tocado com dinheiro público.

    Como não questionar, messiê? Como adotar o padrão fofo, em vez do padrão Fifa, e agasalhar cordeiramente, incluindo o podre trocadilho. Não rola. E repare que não sou da turma do #nãovaitercopa. A bagaceira toda já foi feita. Agora sou do bloco "Vai ter Copa e Protesto". Mais do que legítimo, não acha?

    Daí que volto ao caso da fan fest. Mire-se no Carnaval, messiê Jérôme, aqui se faz uma festa do nada, a cada esquina. Não carece a Fifa na jogada. Quem avisa amigo é: sob chancela de vossa entidade, nada simpática no momento aos brasileiros, o curral da fan fest pode, em vez de unir os sem-ingresso, motivar aquela bafafá de protesto.

    Messiê, repito, até a ONU, diante das mudanças de cenários geopolíticos, renegocia contratos. De festa na rua, messiê, a gente entende mais do que vossa entidade suíça. Repare hoje na tevê "O Galo da Madrugada", lá do Recife. Se liga, messiê, como dizem aqui os manos.

    xico sá

    Escreveu até outubro de 2014

    Jornalista e escritor, com humor e prosa. É autor de "Modos de Macho & Modinhas de Fêmea" e "Chabadabadá - Aventuras e Desventuras do Macho Perdido e da Fêmea que se Acha", entre outros livros. Na Folha, foi repórter especial. Também mantinha um blog no site da Folha.

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