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    30 anos após boom de anencéfalos, Cubatão (SP) registra poucos casos

    CÍNTIA ACAYABA
    THIAGO REIS
    da Agência Folha

    01/09/2008 23h21

    Há 30 anos, Cubatão (58 km de SP) ficou conhecida como a cidade dos "bebês sem cérebro". Era tida também como uma das cidades mais poluídas do país. A relação foi quase imediata: especialistas apontaram as emissões das indústrias como o principal fator para o boom de casos de anencefalia.

    De 1978 a 1984, foram registrados 18 nascimentos de crianças anencéfalas. "O problema era principalmente na Vila Parisi. O bairro era totalmente poluído. E alguma substância impedia o aproveitamento do ácido fólico", diz o pesquisador Reinaldo Azoubel, da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, em relação à vitamina do complexo B que reduz riscos de malformações congênitas em bebês.

    Medidas antipoluição foram tomadas. Em 1983, a Cetesb (agência ambiental de SP) implantou um programa de controle de poluição ambiental, que fixou um cronograma de redução de poluentes para as indústrias da cidade.

    Hoje, 25 anos depois do início do programa, a cidade ainda não tem qualidade do ar considerada "excelente", sobretudo em razão da emissão de gases por caminhões, mas tem 98% menos materiais particulados (poeira e fumaça) provenientes de indústrias, segundo estudo do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo).

    Os casos de anencefalia também voltaram à normalidade. Segundo a Secretaria Municipal da Saúde, desde 2000 não são registrados mais de dois casos por ano --quando há cerca de 2.000 nascimentos em Cubatão. Em média, são considerados normais até dois casos para mil nascimentos.

    Apesar de haver indícios de relação causal entre a poluição e os casos de anencefalia, há pesquisadores que dizem não acreditar em vinculação direta entre os fenômenos.

    "A anencefalia é multifatorial. Há casos de genética, casos de uso de medicamentos e também ambientais. Mas ainda não está tudo muito explicado", afirma Cristião Rosas, da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia).

    Aborto

    Longe de ser consenso, o aborto em casos de anencefalia também divide quem viu de perto o boom de Cubatão.

    "A criança não tem condições de sobreviver. Não é justo fazer esse sacrifício para a mãe", diz o pesquisador Azoubel.

    "Eu acho que as mulheres não devem fazer aborto. Devem fazer o parto", afirma o encanador Raimundo Francisco Neto, 57, pai de uma das 18 crianças nascidas na época.

    "Mas depois do parto minha mulher operou para não ter mais filhos", conta ele. Mariana nasceu em 17 de julho de 1982 e viveu apenas três minutos.

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