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    Almanaque da zona sul de SP

    ALBERTO NOGUEIRA
    DANILO JANÚNCIO
    DO BANCO DE DADOS

    09/09/2012 03h00

    Porção da cidade com maior área territorial, a zona sul retrata os contrastes de São Paulo, unindo o pobre e o rico, o nordestino e o imigrante, sendo berço do rap e das artes plásticas e exibindo muito da riqueza cultural e do pioneirismo da capital.

    BERÇO DE RAPPERS
    O rap pulsa em São Paulo, e suas batidas vêm de Capão Redondo, Grajaú e Vila Arapuã. Principal grupo de rap do Brasil, o Racionais MC´s é liderado por Mano Brown, fruto do Capão e autor de "Vida Loka" e "Pânico na Zona Sul". Já o rapper Kleber Gomes, o Criolo, é morador do Grajaú e brilhou em 2011 com "Não Existe Amor em SP". Rappin Hood, mesmo tendo nascido no Limão (zona norte), foi criado na Vila Arapuã e trabalhou na Rádio Heliópolis, além de ter comandado o programa "Manos e Minas", na TV Cultura.

    O PRIMEIRO ZÔO PAULISTANO
    Em 1892, muitos anos antes de se tornar o Parque da Aclimação --tombado pelo Condephaat (órgão estadual do patrimônio histórico) em 1986--, o local abrigou o primeiro zoológico da cidade e o primeiro posto zootécnico do Brasil. Obra do médico e ruralista Carlos José de Arruda Botelho (1855-1947), dono do terreno que depois seria vendido, repartido e transformado no bairro da Aclimação.

    O ELO DE JAFET E GASPARETTO
    O Palacete Rosa, na rua Bom Pastor, foi construído em 1927 pela família Jafet, imigrantes libaneses donos da Estamparia Ipiranga Jafet, que levou desenvolvimento à região. Tombado como patrimônio da cidade pelo Conpresp, o casarão foi revitalizado pelo atual proprietário, o psicólogo e médium Luiz Antonio Gasparetto, em parceria com a arquiteta Josanda Ferreira. Luiz Antonio nasceu no Ipiranga e é filho da escritora de livros espíritas Zíbia Gasparetto, outra moradora que não arreda pé do bairro.

    RECANTO REAL
    Distrito da Vila Mariana, a Chácara do Castelo integrava a fazenda da Glória e tem esse nome porque o dono das terras havia construído um pequeno castelo em sua chácara, hoje na rua Luís Delfino. Comenta-se que o castelo foi ponto de encontro do imperador d. Pedro 1º (1798-1834) e sua amante Domitila de Castro Canto Melo, a marquesa de Santos (1797-1867).

    MINEIRO DÁ NOME A AEROPORTO
    O segundo aeroporto mais movimentado do país faz referência a Lucas Antônio Monteiro de Barros (1767-1851), o Visconde de Congonhas. O nome foi dado devido à exigência da família, quando esta negociou o terreno com o governo de SP. Congonhas é uma erva-mate comum em Minas Gerais, em especial em Congonhas do Campo, terra do visconde. Aberto em 1936, o aeroporto registrou 209.280 pousos e decolagens em 2011.

    O MITO YPIRANGUISTA
    Moacir Barbosa Nascimento (1921-2000), ou Barbosa, um dos maiores goleiros do Brasil, fez história pelo Vasco e ficou marcado pela final da Copa de 50, quando sofreu o gol do uruguaio Ghiggia que definiu a derrota brasileira, em pleno Maracanã. O que poucos sabem é que Barbosa, injustiçado como o vilão da derrota, surgiu para o futebol no "Vovô da Colina Histórica", o Clube Atlético Ypiranga, em 1941.

    27.jun.50/Folhapress
    Moacir Barbosa, goleiro titular da seleção brasileira na Copa de 1950
    Moacir Barbosa Nascimento, goleiro titular da seleção brasileira na Copa de 1950

    EXCLAMAÇÃO DE ITALIANO BATIZA BAIRRO
    Diz-se que o imigrante italiano Aristodemo Gazzotti impressionou-se tanto com as terras que acabara de comprar na zona sul, em 1922, que exclamou: "Que beleza!". Loteada a partir de 1924 pela família Gazzotti, a região foi batizada de Vila das Belezas. O bairro hoje possui a estação de metrô homônima (linha 5-Lilás), e seu fundador é nome de uma de suas principais ruas.

    INSTITUIÇÃO DEU NOME A LARGO
    O local onde hoje é o largo abrigou por mais de 70 anos o Instituto Dona Ana Rosa, que funcionava em regime de internato e dava educação a crianças abandonadas. O instituto ficou ali até 1947 --hoje está na Vila Sônia (zona oeste). O nome é homenagem a Ana Rosa de Araújo Galvão, que, morta em 1872, deixou a herança para a criação de um abrigo. O local se considera a primeira iniciativa particular de assistência e capacitação profissional do Brasil.

    IMPACTO DE METEORITO MOLDOU EXTREMO SUL
    Deste buraco o motorista paulistano não pode reclamar. Descoberta acidentalmente em 1961, a partir de fotos aéreas, a Cratera de Colônia tem 36 milhões de anos e, segundo geólogos, foi causada pelo impacto de um meteorito gigante ou cometa. O choque abriu uma cratera circular de 3,64 km de diâmetro e formou colinas de 125 m. Tombado pelo Condephaat, o local tem valor científico devido a indícios de flora, fauna e clima do passado.

    1º CEMITÉRIO ISRAELITA DA CIDADE
    O primeiro cemitério judaico de São Paulo foi aberto em 1923, em terreno doado pelo industrial Maurício Klabin (1860-1923). Na época, foi o primeiro cemitério particular da cidade, o que fez com que a prefeitura exigisse que a área abrigasse também um cemitério católico e um protestante, sob pena de discriminação. Entre as pessoas enterradas lá estão o pintor Lasar Segall (1891-1957), o arquiteto modernista Gregori Warchavchik (1896-1972) e Maria Rita Simões Braga, mulher do cantor Roberto Carlos, que morreu em 1999.

    MANEQUINHO ELIMINOU PÂNTANOS DO IBIRAPUERA
    Uma das pessoas que possibilitaram a existência do parque Ibirapuera foi Manuel Lopes de Oliveira. Em 1927, então diretor do Departamento de Matas, Parques e Jardins da Prefeitura, ele iniciou o plantio de centenas de eucaliptos australianos para drenar o solo e eliminar o terreno alagadiço que dominava o Ibirapuera. Conhecido como Manequinho Lopes, seu nome identifica hoje o viveiro do parque que abastece as áreas públicas de São Paulo. Oficialmente o parque só foi inaugurado em 1954, ano do 4º centenário da cidade

    MATADOURO DÁ ESPAÇO A CINEMATECA
    Os três galpões paralelos, de tijolo aparente, que hoje abrigam a Cinemateca Brasileira, no largo Senador Raul Cardoso, possuem 125 anos. Inaugurados em 1887, são um projeto de Alberto Kuhlmann destinado ao Matadouro Municipal de São Paulo, que funcionou até 1927. A restauração e conversão do espaço foi feita por Nelson Dupré, arquiteto responsável pela transformação da Sala São Paulo.

    CULTURA PAULISTANA NO INÍCIO DO SÉC. 20
    A chácara do senador e mecenas José Freitas Vale (1870-1958), a Villa Kyrial, na Vila Mariana (rua Domingos de Moraes, nº 300), serviu por mais de 20 anos como núcleo irradiador de cultura no início do século 20. Artistas e intelectuais em quem fermentavam os germes do modernismo, como Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Tarsila do Amaral, entre muitos outros, circularam por ali. Freitas Vale comprou a Villa Gerda, rebatizada de Villa Kyrial, em 1904. O local foi demolido pouco após sua morte, em 1961.

    MANOS NA TELONA
    "Bróder", do diretor Jeferson De, exibiu o Capão Redondo dos versos de Mano Brown ao mundo, no Festival de Berlim, em 2010. O filme conta a história de amigos de infância, interpretados por Caio Blat, Jonathan Haagensen e Sílvio Guindane, que se reencontram no Capão. "Bróder" faturou cinco prêmios no 38º Festival de Cinema de Gramado, incluindo melhor longa brasileiro e diretor. A trilha sonora leva o sucesso "Triunfo", do rapper Emicida.

    IRMÃOS QUE TELHARAM SP
    Muito do desenvolvimento do Sacomã se deve aos irmãos franceses Antoine, Henry e Ernest Saccoman. Fabricantes de telhas, eles chegaram a São Paulo em 1886, nos últimos anos do Império. O "Estabelecimento Cerâmico Saccoman Frères" é considerado a primeira grande fábrica de produtos cerâmicos do Brasil. Até então, as telhas de qualidade eram todas importadas. Segundo a Associação Brasileira de Cerâmica, o nome das telhas conhecidas por "francesas" ou "marselhesas" se deve à origem dos irmãos Saccoman.

    O INÍCIO DA "MINHOCA DE METAL"
    O Jabaquara, berço do metrô paulistano, foi palco, em 1972, do primeiro teste com protótipo de trem do metrô. Dois dias depois, partia de lá a primeira viagem oficial até a estação Saúde. Por fim, em 14 de setembro de 1974, Jabaquara deu o pontapé nas operações comerciais do metrô, em trecho até a Vila Mariana.

    Apu Gomes/Folhapress
    Pátio de manobras da estação Jabaquara do metrô, na zona sul
    Pátio de manobras da estação Jabaquara do metrô, na zona sul, que foi inaugurado em 14 de setembro de 1974

    7 SÉCULOS DE BUDISMO
    Em 1954, foi construído na Saúde o templo Honpa Hongwanji, ligado à escola budista Jodo Shinshu, fundada há mais de 700 anos no Japão. O templo reúne a maior organização budista do país, com cerca de 100 mil fiéis. Em dezembro de 1958, foi inaugurado o altar-mor pelo principal líder budista do Japão na época, o Gueika ("Papa" da religião) Kosho Otani, primo-irmão do imperador Hiroíto.

    O IPIRANGA DE VOLPI
    Em 1918, Alfredo Volpi decorou o Hospital Militar do Ipiranga, com Orlando Duílio Tarquínio. A pintura se perdeu com o passar dos anos. Mas é no mesmo bairro onde estão painéis e vitrais feitos pelo pintor, no ano de 1951, na Capela do Cristo Operário, rua São Daniel, 119, construída pelo frei João Batista Pereira dos Santos, amigo de Volpi. Foi a primeira vez que ele pintou sobre uma parede como artista, e não como decorador.

    PRAIA DE PAULISTANO
    Aberta na década de 1940, a praia artificial dos paulistanos na represa de Guarapiranga possuía areias vindas de Santos (SP). Construída ao longo da atual av. Robert Kennedy, ex-Atlântica, foi idealizada pelo engenheiro britânico Luiz Romero Sanson e durou dez anos. A praia foi o jeito de atrair moradores para os terrenos ainda pouco habitados em Interlagos e Cidade Dutra. Projetava-se ainda a construção de um luxuoso hotel de 500 apartamentos, próximo ao balneário, que, sem o financiamento do governo estadual, não se concretizou.

    Apu Gomes/Folhapress
    Barcos ancorados em um dos braços da represa do Guarapiranga
    Barcos ancorados em um dos braços da represa do Guarapiranga, conhecida como a praia do paulistano

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