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    'Ela gritava para que não jogasse combustível', diz tia de menina morta

    JULIANA COISSI
    MARLENE BERGAMO
    ENVIADAS ESPECIAIS A SÃO LUÍS

    07/01/2014 07h00

    Internada com queimaduras no corpo após ataque a ônibus em São Luís (MA) na semana passada, a mulher de 22 anos que perdeu uma filha no atentado implorou aos criminosos para que poupassem as crianças.

    "Ela gritava para que ele não jogasse combustível nas meninas, mas não adiantou", disse Jorgiana Carvalho, 25, tia de Ana Clara Santos Sousa, 6, que morreu nesta segunda-feira (6) em decorrência de queimaduras por todo o corpo.

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    Juliane Santos, 22, e duas filhas foram vítimas de um ataque a ônibus na última sexta-feira (3), em São José de Ribamar (região metropolitana de São Luís). Juliane e a filha de um ano e cinco meses continuam hospitalizadas.

    O governo Roseana Sarney (PMDB) diz que os ataques foram reação de criminosos ao aumento da segurança no Complexo Penitenciário de Pedrinhas, em São Luís.

    O complexo prisional é o epicentro da crise de segurança no Estado -62 presos morreram desde o ano passado, sendo três decapitados na última rebelião, em dezembro.

    No velório do corpo de Ana Clara, nesta segunda-feira, parentes e vizinhos expressavam revolta. "A minha indignação é que o Estado não nos deu apoio antes, só agora", disse a tia Jorgiana.

    A menina, que gostava de se vestir de princesa e usar os batons da tia, teve 95% do corpo queimado.

    Juliane permanecia internada com 40% do corpo queimado e situação estável. A filha de um ano tinha queimaduras em 20% do corpo.

    ATAQUE

    Na sexta à noite, Juliane voltava com as filhas para a casa de sua mãe, onde todas moravam. Ela havia ido visitar o namorado, pai da caçula.

    Segundo a tia das crianças, Juliane lhe contou que cinco homens armados invadiram o ônibus. Enquanto um ordenava que todos descessem, um deles começou a jogar combustível diretamente nas pessoas, inclusive nela e nas filhas.

    "Ela gritava para que ele não jogasse combustível nas meninas, mas não adiantou", disse a tia.

    Em seguida, os homens atearam fogo ao veículo. Juliane deitou-se sobre a bebê para protegê-la e segurou na mão de Ana Clara.

    Mas a menina desgarrou-se e tentou sair, passando pela porta da frente do ônibus, que já estava em chamas. O fogo rapidamente se espalhou pelo corpo da menina.

    OUTRA PERDA

    A família também enfrentou outra perda. No domingo (5), ao saber do estado de saúde de Ana Clara, o bisavô paterno, de 81 anos, sofreu um infarto e morreu.

    "A Clarinha até fazia o prato de comida para ele [bisavô]", disse a avó da menina Filomena Carvalho, 49.

    Segundo parentes, Ana Clara, mesmo pequena, insistia em ajudar a mãe e a avó em tarefas domésticas. Tratava a irmã caçula como bebê e uma forma de brincadeira. O enterro do corpo da criança deverá ocorrer hoje, em São José de Ribamar.

    Além de Juliane e da filha de um ano, duas vítimas dos incêndios a ônibus no Estado continuavam internadas -um homem de 37 anos corria risco de morte.

    Durante a onda de ataques da semana passada, um policial reformado morreu baleado, mas o governo do Maranhão descartou ligação com os atentados.

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