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    Rio de Janeiro

    Há três dias ocupantes de favela no Rio tentam evitar demolições de casas

    LUCAS VETTORAZZO
    DO RIO

    09/01/2014 13h01

    Pelo terceiro dia consecutivo, ocupantes de casas abandonadas da chamada Favelinha do Metrô ou Metrô Mangueira protestaram nesta quinta-feira (9), fechando a rodovia Radial Oeste, importante via da zona norte do Rio, na noite de hoje. Segundo o Centro de Operações da prefeitura, a interdição durou cerca de 40 minutos e a pista foi liberada por volta de 22h.

    O local dos protestos fica a menos de um quilômetro do estádio do Maracanã. Os manifestantes tentam evitar que casas da comunidade sejam demolidas pelo Executivo municipal.

    As ações de resistência –não raro com conflitos com a tropa de choque da polícia– vêm se repetindo nos últimos três dias. Os atos desta quinta começaram pela manhã, quando os ocupantes jogaram entulhos na linha do metrô que passa atrás da comunidade. A circulação de trens na Linha 2 teve que ser paralisada, das 8h01 às 8h13, para a remoção dos entulhos.

    Na terça-feira, 12 casas foram postas abaixo sob protestos. Os ocupantes atearam fogo em entulhos, atiraram pedras, garrafas e ovos nos policiais militares que acompanhavam os trabalhos e fecharam também uma das pistas da Radial Oeste. Pedras também foram atiradas nos carros que passavam na via. A polícia utilizou spray de pimenta e bombas de efeito moral para tentar conter as manifestações.

    Os conflitos se intensificam à noite. Durante a manhã e à tarde, há focos intercalados de confusão e calmaria. Na noite de ontem, o Batalhão de Choque ocupou a comunidade.

    A assessoria de imprensa da Prefeitura do Rio informou que dará continuidade às demolições assim que os ânimos se acalmarem. Ocupantes prometeram fazer um cordão humano caso os tratores voltem à região.

    As pessoas que hoje protestam na favela não são os moradores originais. A Prefeitura do Rio iniciou em 2010 o processo de remoção da comunidade e reassentamento das 640 famílias que viviam ali. Nem todas as casas, contudo, foram demolidas e pessoas de baixa renda invadiram os imóveis abandonados. A prefeitura estima que existam ainda cerca de 200 casas a serem postas à baixo.

    Antonio Lacerda/Efe
    Homem vestido de Batman brinca com crianças da favela do Metrô
    Homem vestido de Batman brinca com crianças da favela do Metrô

    HISTÓRICO

    A favela Metrô-Mangueira existe desde o início da década de 1990. Ela fica em uma área pequena, espremida entre a avenida Radial Oeste, uma das principais da zona norte, e as linhas de metrô e trem que ligam o centro àquela parte da cidade.

    Atrás da linha férrea, no morro que fica em frente ao estádio do Maracanã, fica a favela da Mangueira que, em junho de 2011, recebeu uma UPP (Unidade de Polícia Pacificadora).

    Das famílias cuja remoção foi iniciada em 2010, parte foi reassentada em dois condomínios do Minha Casa, Minha Vida, do governo federal, no morro da Mangueira. Outra parte foi para condomínios em Triagem, a poucos quilômetros dali, na zona norte, e em Cosmos, a 50 quilômetros, na zona oeste.

    DEMORA NA REMOÇÃO

    A negociação entre moradores e prefeitura, contudo, não foi simples. Moradores resistiram a deixar suas casas. A Prefeitura do Rio chegou a demolir parte da comunidade, que inicialmente daria lugar a um estacionamento do Maracanã. Atualmente, a prefeitura pretende construir ali um parque público e um polo automotivo, devido a quantidade de oficinas mecânicas na região.

    A Prefeitura não explica o porquê da demora na demolição completa da favela, já que o processo de remoção foi iniciado há cerca de três anos. Diz, por meio de sua assessoria de imprensa, que nem todas as casas foram postas abaixo por conta de a maiorias das residências serem germinadas umas nas outras.

    Enquanto alguns moradores de uma casa toparam deixar o local, outros não, inviabilizando a demolição de imediato. Não foi informado ainda quando todas as 640 famílias deixaram, de fato, o local. A opção para as pessoas que invadiram as casas abandonadas neste momento são os abrigos municipais da cidade.

    A Folha esteve na favela na terça-feira (7) e conversou, entre outros ocupantes, com a catadora de latas e papelão Valéria Menezes, 38, que retirava os móveis da casa que invadiu há dois anos, enquanto o trator da prefeitura se posicionava do lado de fora. Seus bens são um fogão, uma televisão e dois ventiladores.

    Ela contou que vive com quatro filhos e duas sobrinhas, na faixa dos quatro aos sete anos de idade. Segundo ela, nenhum assistente social visitou a comunidade desde que as invasões começaram. Ela disse que morava em um abrigo municipal antes de ir para a favela.

    "Se o abrigo fosse bom, ninguém estaria brigando para ficar aqui. No abrigo tratam a gente como bicho, a comida é horrível. Até com esse esgoto correndo aqui é melhor", disse ela que, assim como as crianças, estava descalça.

    Os moradores transitam sobre os córregos de esgoto em pontes improvisadas com portas e pedaços de madeira. Lixo, escombros e esgoto estão espalhados por toda a pequena comunidade.

    Valéria acomodava os móveis e sua família em uma casa também abandonada do outro lado da rua. "Disseram que esse lado vai ser demolido na semana que vem. Depois disso não tenho pra onde ir", disse.

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