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    Professora dobra salário após marido chefiar a Academia de Polícia de SP

    ROGÉRIO PAGNAN
    DE SÃO PAULO

    10/01/2014 10h50

    Uma professora da Academia de Polícia de São Paulo viu sua renda mensal dobrar desde o início do 2013, justamente após o marido dela se tornar seu chefe.

    A escrivã Patrícia Leite de Barros, casada com o delegado Mário Leite de Barros, tinha uma renda média de R$ 5.300 até dezembro de 2012. Depois de janeiro, quando o marido tornou-se diretor da academia, essa média mais que dobrou: atingiu R$ 11,7 mil (dados do portal da transparência do governo paulista).

    Polícia diz que não vê irregularidades em evolução salarial de professora

    Parte desse salário de Patrícia vem das atividades exercidas por ela na academia, quer como professora, quer como integrante de comissões de concursos ou processos seletivos realizados pela própria academia.

    Cada hora de aula na academia equivale a R$ 70,24 ou R$ 158,04, dependendo do grau do professor. Esse valor também é pago para quem participa das comissões.

    Escrivã de primeira classe, com salário base de R$ 3.390,60, a escrivã recebeu em novembro R$ 12.548,48 brutos, mais que cerca de 60% dos delegados.

    Foi quase o dobro do salário do presidente da Associação dos Escrivães de Polícia, Horácio Garcia de Oliveira, escrivão de classe especial e com 38 anos de polícia. Ele recebeu R$ 6.817,00. "Lutamos há 30 anos pelo nosso reconhecimento salarial", disse.

    Ela foi aprovada em processo seletivo na academia em outubro de 2012, meses após o marido assumir a Secretaria de Concursos Públicos, setor responsável pela organização de todos os concursos (internos e externos) da própria academia.

    Formada em direito, foi aprovada para ministrar aulas de gestão de pessoal. A polícia diz que ela tem especialização nessa área. A reportagem solicitou à polícia autorização para acompanhar uma aula, mas a informação foi de que ela não tinha turmas no momento.

    Por ser professora, foi convidada para participar de processos seletivos de gestão de recursos humanos, documentoscopia e nos concursos públicos de papiloscopista e de escrivão de polícia.

    "A professora Patrícia foi indicada em razão da sua vasta experiência na área de polícia judiciária, secretariando os atos das comissões, na condição de escrivã", diz nota da Secretaria de Segurança Pública paulista.

    Professores da academia ouvidos pela Folha, na condição de anonimato, dizem ser muito incomum um professor recém contratado ser requisitado para tantas bancas. Dizem que também não é comum a indicação de escrivães para secretariar comissões.

    A pasta alega ainda que a contração da escrivã não teve influência do marido quando era secretário.

    A policial é lotada no Deinter (Departamento de Polícia Judiciária) de Bauru e para participar de parte de suas atividades precisa se deslocar até 343 quilômetros. A Secretaria da Segurança Pública disse que não vê irregularidades.

    Diz que a escrivã vem trabalhar em SP com recursos próprios de carro particular ou de ônibus, ou pega alguma carona com carros oficiais. "Portanto, não há qualquer ônus ao erário, mesmo porque parte dessas atividades é exercida no Núcleo de Ensino do Interior de Bauru."

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