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    'Avalanche' de pedras faz até morro sumir em Itaoca (SP)

    FABRÍCIO LOBEL
    ENVIADO ESPECIAL A ITAOCA (SP)

    16/01/2014 03h20

    Em Guarda-Mão, bairro de Itaoca (347 km de SP) mais atingido pelo temporal de domingo, a "avalanche" de pedras (algumas maiores do que casas) causada pela enxurrada mudou a geografia local.

    Onde antes passava um córrego estreito –o mesmo que dá nome ao bairro– há agora uma fenda enorme.

    As pedras desceram montanha abaixo pelo leito. "Onde tinha morro não tem mais; o córrego virou rio e essas pedras também não são daqui", conta Cleuzires Ribas, 22.

    Pelo caminho, água e pedras destruíram 9 casas e levaram 21 pessoas. O bairro concentra 11 das 13 mortes já confirmadas na cidade e 10 dos 13 desaparecidos –Defesa Civil e Corpo de

    Bombeiros recontaram ontem o número de mortos, anteriormente divulgado como 14.

    Algumas casas estão embaixo das pedras, outras foram completamente levadas.

    Centenas de metros adiante, há roupas, tijolos, restos de eletrodomésticos, além de cães e peixes mortos enroscados em galhos e troncos.

    "O pessoal tinha criação de porco, de boi aqui e tudo se perdeu", explica Cleuzires.

    Entre os sobreviventes do bairro está o casal Conceição de Camargo, 77, e Amadeu Camargo, 82. Eles relatam terem passado a noite de domingo em casa, com a água no nível no pescoço.

    Foram resgatados por voluntários apenas no início da manhã seguinte.

    "A gente costuma dormir na sala. Naquela noite, uma goteira fez com que a gente resolvesse dormir no quarto", diz Conceição.

    Eles acordaram com o ruído das pedras e da água, que logo invadiu a casa (há marcas de 2 m nas paredes). Chegaram a ficar submersos, mas a parede da sala ruiu e a água baixou até o nível do pescoço.

    Conceição e o marido estão na casa de amigos, mas ainda isolados do resto de Itaoca.

    A prefeitura se comprometeu a enviar mantimentos e cuidados médicos para as famílias isoladas. Segundo o prefeito Rafael Camargo (PSD), já estão sendo tomadas as providências para desobstrução do acesso ao bairro.

    IDENTIFICAÇÃO

    Parentes de vítimas relatam ainda a confusão com a identificação de corpos.

    "Minha irmã foi identificada pelo pai dela. Agora estão falando que o corpo não é mais a minha irmã", diz Adriano Santos, cuja mãe, um irmão, a avó e o padrasto também morreram.

    Houve ainda a suspeita de que outra vítima, um homem de cerca de 30 anos, pudesse ter sido erroneamente velado como Odair José de Lima.

    Os bombeiros seguem fazendo a busca de mais corpos.

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