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    Com medo de tumulto, paulistano dá um tempo de shopping após 'rolês'

    ROBERTO DE OLIVEIRA
    DE SÃO PAULO

    24/01/2014 03h00

    Cariocas adoram falar que shopping é "praia" de paulistano. Nesta temporada de termômetros nas alturas, tal programa, na avaliação de alguns frequentadores, anda com a cotação em baixa. Culpa dos "rolezinhos", dizem.

    A principal diversão da atendente Ana Paula Silva Costa, 31, era almoçar no shopping Metrô Itaquera (zona leste da capital) com a família. Agora, quando passa pelo local para pegar o metrô, evita até uma voltinha.

    Eduardo Knapp/Folhapress
    Margarette Reis, 42, defende o fechamento dos shoppings contra "rolê"
    Margarette Reis, 42, defende o fechamento dos shoppings contra "rolê"

    Centros de compras que foram alvo de "rolezinhos" tiveram queda de 25% em vendas e movimento, em relação a igual período de 2013, diz a Alshop (Associação Brasileira de Lojistas de Shopping).

    "Tenho medo de arrastão e tiroteio. Meus dois filhos, de 9 e 16 anos, iam nos fins de semana. Agora, estão proibidos de pisar lá", conta.

    Ana lembra que tomou essa iniciativa porque "quase infartou" no começo deste mês, após receber um telefonema desesperador do filho.

    Ele estava "preso" dentro do shopping, cercado por policiais, naquele que foi considerado o mais violento "rolezinho" -na ocasião, a PM usou bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha para dispersar os jovens.

    "Fui buscá-lo às pressas", conta Ana, que mora em São Miguel Paulista, zona leste.

    No extremo oposto de São Paulo, no Alto de Pinheiros, vive a empresária Edna Queiroz, 55, que, embora nunca tenha passado por uma experiência dessas, também deu "um tempo de shopping".

    Ela conta que frequentava ao menos duas vezes por semana o Villa-Lobos. "No momento, não me sinto tranquila. De repente, entra um bando e vira arrastão. Você está distraída e levam sua bolsa."
    de portas fechadas

    Para a maquiadora Margarette Reis, 42, os shoppings "estão cobertos de razão em fechar as portas diante de ameaças de 'rolê'". "É para garantir a segurança de funcionários e frequentadores."

    Moradora da Chácara Santo Antônio (zona sul), ela dava seu "rolê" nos shoppings Morumbi e JK Iguatemi ao menos duas vezes por semana para jantar, comprar e pegar uma tela. No momento, está "evitando".

    A maquiadora diz também ser favorável a que os centros de compras submetam frequentadores a uma "triagem" na entrada. "Neste momento delicado por que estamos passando, é necessário.

    Pesquisa Datafolha revela que 82% dos paulistanos são contra os "rolezinhos".

    Esses fenômenos revelam como "a classe média está acuada", filosofa Margarette. "Primeiro, foram os arrastões em restaurantes. Trocamos os de rua pelos de shopping. E agora? A gente não sabe quem está no meio do rolê."

    Para a empresária Edna, é aí que mora o perigo. "Essas manifestações sempre descambam para o vandalismo."

    Diz mais: "Em todo grupo, há uma maçã podre. Quando eles estão em turma, querem se exibir. É como se escancarassem para todos: 'Quebro, faço e ninguém me pega'."

    Frequentadora dos shoppings Metrô Tatuapé, Itaquera e Aricanduva, onde mora, a estudante Suelen de Oliveira Gregório, 18, enxerga "muita paranoia nessa história". "Gente, a receita é simples", diz: "Basta monitorar pela internet. Se for rolar, eu não vou. Fico em casa. Ponto!".

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