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    Ex-prefeitos de São Paulo veem transporte como desafio da cidade

    BRUNO BENEVIDES
    DE SÃO PAULO

    25/01/2014 09h00

    Os ex-prefeitos de São Paulo Gilberto Kassab e José Serra apontam o transporte como um dos principais desafios da cidade nos próximos dez anos. Educação, Plano Diretor, meio ambiente e administração pública também aparecem foram citados.

    A Folha enviou três questões aos dois últimos prefeitos da cidade e o atual, Fernando Haddad, sobre o futuro da capital. O petista não respondeu as perguntas.

    Confira a resposta dos ex-prefeitos:

    Folha - Quais serão os três principais desafios para a cidade nos próximos dez anos?

    Gilberto Kassab - São muitos desafios. São Paulo é muito atrasada em relação ao transporte, principalmente o transporte sobre trilhos. É uma área importante em relação a infraestrutura da cidade. Nós caminhamos para uma necessidade de ensino integral, porque a mãe e o pai trabalham. A criança precisa ficar na escola. Não tem sentido o poder público não dar creche, não dar ensino integral. Mas isso envolve recursos, envolve uma discussão do financiamento da educação. Há também questões que dizem respeito ao plano diretor, ao modelo de crescimento de cidade. Aproximar emprego e moradia, sabendo dosar o processo. Fazer as pessoas morarem no centro expandido, mas também levar empregos para a periferia.

    José Serra - Difícil escolher três, pois há uns dez desafios principais. Em todo caso, eu citaria transportes, hoje o mais visível. A cidade vai ter um bônus. Nunca o governo do Estado mobilizou tantos recursos e abriu tantos investimentos quanto nos últimos dez anos na área de metrô e CPTM. Por isso, até 2020 a rede de trilhos deverá ser 130 % maior do que é hoje. Isso vai aliviar a pressão sobre os ônibus e o trânsito. Quanto à outras ações na área de transportes, da prefeitura, por enquanto, é só improvisação. Corredores e faixas de ônibus são necessários. Mas estão sendo feitos de forma atabalhoada, sem qualquer planejamento. Outro desafio é o do meio ambiente, que já seria muito difícil para quem quer que fosse prefeito. Mas, hoje, tornou-se mais complexo ainda, pois tem sido vítima da estratégia de "empurrar com a barriga". O desafio maior para a cidade nos próximos dez anos é o da qualidade média das sucessivas administrações. E isso depende de escolhas políticas. Tomara que elas privilegiem quem não loteia, tenha prioridades claras, equipes bem preparadas e saiba fazer acontecer.

    Folha - Quais são os três principais "pecados" que se refletem no cotidiano de São Paulo?

    GK - Os pecados são atrelados aos desafios. O cidadão é penalizado nas três áreas. Tem cidadão que fica quatro, cinco, seis, horas no transporte entre ir e vir do trabalho. Assim como o pai e a mãe que não conseguem vagas em creche. Aumentou muito as vagas em três, na nossa gestão encontramos São Paulo com 60 mil vagas e deixamos com 210 mil. É inadmissível para uma mãe não ter uma vaga na creche, precisamos atender a demanda.

    JS - Primeiro, a mediocridade da zeladoria da cidade, que depende menos de recursos do que da capacidade administrativa do poder municipal. Só para exemplificar, no meu primeiro ano de gestão nós conseguimos recapear praticamente as principais ruas da cidade, a custos baixíssimos.

    Segundo, a percepção de falta de segurança, que tende a ser agravada pela desativação gradual da operação delegada, feita quando eu era governador e o Kassab prefeito. A prefeitura ampliava, a custos baixos, a presença de mais PMs nas ruas, de forma planejada. Deu tão certo que começou a se espalhar pelo Estado.

    Terceiro, o centro da cidade, tão importante para a economia, a autoestima e a própria identidade da metrópole paulistana, voltou a entrar em processo de deterioração, a grande velocidade.

    Folha - O que mudou em sua vida após assumir o comando da maior cidade do país? E após deixar a prefeitura?

    GK - Eu Tenho uma formação técnica e abracei a vida pública. Como prefeito eu tive oportunidade de fortalecer meu conhecimento da vida pública. Mudou muita coisa Aumentou meu raio de atuação, a abrangência do meu conhecimento, as minhas responsabilidades. Tive humildade para reconhecer que nem todas as demandas seriam atendidas e joguei de peito aberto com a cidade, falando a verdade. Alguns momentos incompreendido, em outros com compreensão total. Tudo isso contribuiu para aumentar a minha formação e que marcou e vai marcar a minha vida.

    JS - Deixei a prefeitura em condições muito especiais, pois assumi o governo do Estado, com o apoio eleitoral dos paulistanos. E o governador tem enormes responsabilidades em relação à metrópole paulistana. Foi muito prazeroso, então, poder contribuir para ela. Na área de transportes, do meio ambiente, da Saúde, da Educação Básica e Técnica, até nas ciclovias... Veja o caso da Cultura — criamos novos museus, as Fábricas de Cultura, a Biblioteca São Paulo, a Escola de teatro, a Companhia de Ballet.

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