Um ponto de convergência, pra mim, entre um cozinheiro e um prefeito é que os dois deviam cuidar do chão da cidade, com o carinho, o zelo e o conhecimento que ele merece. O chão que pisamos, que nossos carros esmagam, que nossas casas impermeabilizam, merecia mais carinho e cuidado, pois é dele que vem nosso sustento e, num sentido mais profundo, nossa própria identidade.

Por isso, para começar premiaria (em forma de incentivo/isenções/reconhecimento) quem cultivasse uma horta ou um vaso em sua casa. É claro que para isso precisa mais do que vontade, é necessário conhecimento. Aí entram os organismos já existentes e que têm uma atuação incrível, como os Hortelões Urbanos. Envolveria essas entidades com compromisso e seriedade para trocar pedaços de concreto por canteiros de comida.

Do quintal para a calçada, a mesma ideia. Com a ajuda de especialistas incentivaria o plantio de flores e árvores frutíferas adequadas a cada rua/região. Penso que, a exemplo das disputas que existem no Natal, poderíamos ter uma batalha das flores e frutos, com ruas e associações de moradores se esmerando para tornar sua rua melhor, mais bonita.

	Leticia Moreira/Folhapress
	O chef Rodrigo Oliveira em seu restaurante

O ponto-chave desta mini-revolução silenciosa seriam as escolas. Pra mim esse é o eixo da esperança de mudança em qualquer tempo, regime, governo. Como lembrava o mestre Paulo Freire "ensinar e aprender não pode dar-se fora da procura, fora da boniteza e da alegria" e a escola é esse lugar, o canteiro da alegria e da utopia.

Se sobrasse tempo nesse dia, colocaria minha colher na questão da mobilidade urbana. Eu ando de bicicleta: é uma ótima solução com vários problemas no caminho. Incentivaria a criação de ciclo faixas, a exemplo do que fez Palermo, em Buenos Aires, com impacto mínimo sobre os carros.

Acrescentaria o plantio de diversas ervas e flores, criando uma trilha de aromas para perfumar e refrescar a vida de quem pedalasse. Um prêmio e uma bela substituição ao cheiro insípido de ar-condicionado.

Assim, podemos dizer que o eixo do meu "programa de governo" por um dia seria com medidas simples e baratas, mexer na alimentação, na beleza e na mobilidade da minha cidade.

Você pode dizer que tudo isso é um sonho, pode não dar certo, mas, lembrando novamente nosso maior educador "para mim é impossível existir sem sonho. E a vida me ensinou, como grande lição, que é impossível assumi-la sem risco".