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    Festa com feiticeiros bolivianos reúne 35 mil em São Paulo

    PEDRO IVO TOMÉ
    DE SÃO PAULO

    25/01/2014 04h00

    Ao som de um rap em espanhol transmitido por uma rádio boliviana, feiticeiros usam cerveja para abençoar miniaturas de objetos desejados por devotos de Ekeko, deus andino da abundância, durante um ritual coletivo.

    A cerimônia faz parte da festa das Alasitas, que ocorreu ontem no parque Dom Pedro II, centro de São Paulo. Com tradição bicentenária em La Paz, sede do governo da Bolívia, o evento reuniu cerca de 35 mil pessoas, segundo o Corpo de Bombeiros.

    Organizado pela Assempbol (Associação de Empreendedores Bolivianos da Rua Coimbra), o evento teve danças folclóricas, apresentações e venda de comidas típicas.

    Desde 1999, o Brás, bairro com uma espécie de "micro La Paz" na rua Coimbra, também na região central, recebe o evento todo dia 24 de janeiro. Neste ano, o primeiro com apoio da prefeitura, parte da festa foi feita no parque.

    Ontem, o evento foi incluído no calendário oficial da capital por um decreto do prefeito Fernando Haddad (PT). Em 2012, tendas da festa chegaram a ser removidas pela Guarda Civil Metropolitana e por agentes da prefeitura.

    RÉPLICAS E RITUAIS

    Nas barracas, as réplicas têm maior venda até as 12h. Segundo o costume, esse é o horário limite para comprar a miniatura a ser usada no ritual feito por um dos yatiris (feiticeiros).

    Pelo menos dez deles cobravam de R$ 10 a R$ 25 -a depender da fama da fé que têm em Ekeko, principal divindade da festa- para garantir que os desejos dos devotos se tornem realidade.

    Essa é a explicação dada pela mulher de um deles, Nieves Alferes, 45, casada com Martín Caballero, 50, um dos feiticeiros mais caros. Vindo de La Paz, Caballero mora há cinco anos em São Paulo e cobra R$ 25 pela benção.

    Outro xamã famoso entre os bolivianos é Julio Atcho: por volta das 13h, a fila de espera para seu ritual -R$ 20 sem cerveja, R$ 25 com- tinha mais de 30 pessoas.

    Entre elas, Edhuiu Chura, 34, segurava um pequeno pacote feito de pano com réplicas de notas, uma pequena casa e um carro. Costureiro em São Miguel, zona leste, ele tirou folga para ir a festa.

    Chura diz gostar de São Paulo, mas reclama da insegurança na cidade. "Em La Paz não há tantas oportunidades, mas, para mim, é mais segura do que aqui", afirma.

    No ano passado, ele teve sua casa invadida. Segundo Chura, a maioria dos bolivianos costuma guardar o dinheiro nas próprias residências e fazer remessas para as famílias que moram na Bolívia, motivando os assaltos.

    Em junho do ano passado, o garoto boliviano Brayan Capcha, 5, foi morto após ladrões invadirem sua casa em São Mateus, na zona leste. Eles levaram R$ 4.500.

    Editoria de Arte/Folhapress

    DIFICULDADES

    Segundo Cleyton Borges, 36, assessor jurídico da ONG Centro de Direitos Humanos e Cidadania do Imigrante, estima-se que 300 mil bolivianos vivam em São Paulo.

    O centro, que apoia estrangeiros residentes no Brasil e faz orientações sobre as burocracias para os imigrantes. De acordo com Borges, as taxas para a manutenção da permanência no Brasil podem custar cerca de R$ 1 mil.

    Luiz Vasquez, 42, presidente da Assempbol, também aponta a discriminação como problema para permanência dos bolivianos no Brasil.

    Vasquez era professor de administração na Universidade Mayor de San Simón, em Cochabamba. Hoje, ele tem uma empresa que vende peças para costura no Brás com 15 empregados bolivianos.

    "Os bolivianos aqui caem na costura por falta de opção. Tem até professores e advogados na comunidade, mas que não conseguem emprego na própria área."

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