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    Sobreviventes e parentes tentam tocar a vida após tragédia da Boate Kiss

    FELIPE BÄCHTOLD
    ENVIADO ESPECIAL A SANTA MARIA
    MELINA GUTERRES
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM SANTA MARIA

    27/01/2014 12h06

    Um ano após a tragédia da boate Kiss, a reportagem da Folha retornou a Santa Maria (RS). Na cidade gaúcha, conversou com familiares de vítimas e com sobreviventes que tentam retomar aos poucos a vida normal e superar as feridas do incêndio que matou 242 pessoas.

    A seguir, algumas dessas histórias:

    A BANDA DE ABERTURA

    Uma das atrações da Kiss na madrugada do incêndio, a banda Pimenta & Seus Comparsas perdeu dois de seus quatro integrantes na tragédia.

    Após meses de recesso, os dois remanescentes, Lucas Prauchner, 28, e Valterson Wottrich, 37, retomaram o trabalho com novos colegas. Tiveram ajuda de moradores e de empresas de Ijuí (RS) para comprar novos instrumentos.

    "Continuar é uma forma de manter vivo o sonho deles", diz o vocalista Valterson.

    DEDICAÇÃO INTEGRAL

    Adherbal Ferreira, 49, é a face mais visível das famílias que perderam jovens no incêndio.

    Pai de Jennefer, 22, que morreu na tragédia, ele preside a associação dos familiares de vítimas e sobreviventes, que reúne cerca de 1.800 pessoas.

    Dono de loja de móveis, ele diz dedicar 90% de seu tempo à associação. Viaja dando palestras sobre a tragédia e sobre prevenção a incêndios.

    A entidade defende atendimento médico para os sobreviventes, auxílio a famílias carentes que perderam provedores e o esclarecimento do caso na Justiça.

    "Não sabia que teria condições de ser líder, mas foi acontecendo."

    PAI E AVÔ

    Um garoto de sete anos motivou o caminhoneiro Homero Pinto de Bairro, 49, a enfrentar o ano sem as duas filhas. Ele precisou ir à Justiça para obter provisoriamente a guarda do neto, que no incêndio da Kiss perdeu a mãe, Patrícia, 27, filha de Homero, e o pai, Júnior, além da tia, Greicy Bairro, 18.

    As duas famílias disputam na Justiça quem irá ficar definitivamente com o menino.

    "A partir do momento em que perdi as filhas, já tive que sair brigando por causa do meu neto. Não sei o que seria, se não o tivesse."

    Hoje, o garoto mora com Homero e passa um dia da semana com os avós paternos.

    O temor é o esquecimento da tragédia. "A gente não vê mais ninguém falando sobre isso."

    PARA SEMPRE CINDERELAS

    Mirela, Vitória, Flávia, Gilmara e Andrielle eram amigas inseparáveis. As cinco foram juntas à Kiss e morreram no incêndio.

    Em meio à dor, as mães delas se conheceram e tiveram a ideia de formar uma ONG de ações de caridade em memória das jovens. Desse encontro surgiu a Para Sempre Cinderelas, que arrecada mantimentos, roupas e material escolar para creches e escolas de Santa Maria.

    As jovens já faziam trabalhos sociais e tinham planos de criar uma entidade própria, diz Helena Rosa, que perdeu Mirela, 21, e o caçula José, 18.

    "É muito gratificante o que a gente faz. E é em nome delas, claro. É bom para nós, mães, e para as crianças também", afirma.

    HERÓI DA MARRETA

    Gustavo Riet, 35, protagonizou uma das imagens mais marcantes da tragédia. Jovens desesperados quebravam a marretadas as paredes da boate na tentativa de salvar amigos.

    "Nossa ideia era tirar alguém com vida pelas paredes, mas isso não aconteceuº, lembra. Ele retirou desconhecidos com vida pela única porta, mas perdeu o melhor amigo no incêndio.

    O esforço teve consequências graves: Gustavo passou dias internado por inalação da fumaça e faz tratamento até hoje.

    Um grande apoio que teve no último ano foi o da professora e estudante de direito Juliana Ruviaro.

    Eles haviam se conhecido dias antes do incêndio. "A Juliana, quando soube o que estava acontecendo na boate, foi lá pra frente. Ela me ajudou desde então, me acompanhou no hospital, fomos nos conhecendo e acabamos namorando."

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