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    Cabe às autoridades 'coibir violência das manifestações', diz dom Orani

    PEDRO SOARES
    DO RIO

    12/02/2014 13h30

    A poucos dias de ser criado cardeal, dom Orani Tempesta, arcebispo do Rio, afirmou que "cabe às autoridades tanto coibir a violência nas manifestações", "que mata, destrói e estraga", como "punir os responsáveis" por esses atos.

    O futuro cardeal, que será elevado ao cargo no próximo dia 22, falou especialmente da morte do cinegrafista Santiago Andrade, da TV Bandeirante, "que estava trabalhando, em sua liberdade, para o bem da sociedade."

    "É muito lamentável. Vai a minha união e o meu pesar à toda a família. É muito triste. [Era] Um cinegrafista captando as imagens para levar para o mundo inteiro. É um belo trabalho", disse. Santiago Andrade foi atingido por um rojão num protesto na semana passada e morreu na segunda-feira.

    Segundo Tempesta, a "parte da igreja é chamar" as pessoas a viverem "em paz, a se entenderem e a se amarem uns aos outros", mas "as pessoas são livres a aceitar ou não" a esses preceitos.

    Ao Estado, diz, está reservada a obrigação "garantir a liberdade de imprensa", assegurar o direito às "manifestações democráticas" e impedir a violência. "É uma equação que cabe às autoridades resolverem."

    Tempesta considera o pleito de manifestantes justo, mas condenou todas as formas de violência e destruição de patrimônio público ou privado.

    "Cabe às autoridades tanto punir os repensáveis como coibir a violência, que não faz parte da democracia nem do direito de se manifestar, de querer novas situações para saúde, educação e locomoção. É uma reivindicação justa, mas não é justo destruir as coisas da cidade ou dos outros ou matar alguém", disse o arcebispo.

    GAYS E IGREJA

    Indagado sobre a posição do papa Francisco de abrir a igreja a gays e seus filhos e a possível resistência de padres e alguns setores da igreja a isso, o arcebispo afirmou: "
    "Quando o papa fala, começa-se a ter a consciência de acolher a todos."

    "Ao falar, se cria uma mentalidade de acolhimento [por parte da igreja e do clero], de ajuda às curas interiores e machucados de cada um. Ao mesmo tempo, a igreja vem sendo percebida como uma casa onde as pessoas podem entrar e receber a palavra de Deus para iluminar sua vida."

    Tempesta reconheceu, porém, que podem ocorrer resistências (aos gays e seus filhos) em alguns locais e não só por parte do clero, mas também da comunidade ao redor. Apesar da ênfase do pontífice à misericórdia, diz, "uma mentalidade não se muda da noite para o dia".

    JORNADA MUNDIAL

    O futuro cardeal disse que a JMJ (Jornada Mundial da Juventude) não "fechou ainda suas contas", mas não revelou o valor da dívida -que estava na ordem de R$ 30 milhões no fim de janeiro.

    Esse número, diz, muda a cada dia porque fornecedores ainda estão sendo pago. A ajuda do papa, que doou R$ 11,7 milhões para saldar dívidas da organização do evento, chegou no fim de janeiro, segundo o arcebispo.

    Se a opção inicial de usar a base aérea de Santa Cruz (e não um terreno numa fazenda em Guaratiba, zona oeste, como sugeriram a Prefeitura e a União) tivesse sido usado, não restariam dívidas de grande monta. "A estrutura estava toda pronta."

    O local teve de receber terraplanagem e outras melhorias, mas não foi utilizado e todos os eventos foram alterados para Copacabana por conta da forte chuva que caiu durante a visita do papa, no ano passado.

    O arcebispo reconheceu, porém, que a organização superestimou o número de visitantes inscritos oficialmente. A expectativa era 500 mil pessoas e foram feitas 300 mil reservas de peregrinos, o que elevou despesas com alimentação, por exemplo. Muitos vieram por conta própria.

    CONSISTÓRIO

    Sobre o colégio de cardeais e a não inclusão de dom Murilo Kreiger, arcebispo de Salvador, primaz do Brasil, na lista dos elevados ao cargo pelo papa, Tempesta disse que Francisco "trabalha com uma dificuldade que é um número fechado de 120 cardiais" eleitores com menos de 80 anos e "é livre para escolher".

    A exclusão chamou a atenção por Salvador tradicionalmente ser uma sede cardinalícia. Analistas atribuem a não escolha pelo perfil mais conservador de Kreiger.

    Tempesta viaja dia 19 para Roma. Ficará dois dias em retiro, ao lado dos outros 19 novos cardeais. No dia 22, acontece o consistório, cerimônia na qual será criado cardeal. No dia 23, haverá uma missa com o papa Francisco e os novos integrantes do colégio cardinalício na Basílica de São Pedro.

    No dia seguinte, dom Orani Tempesta celebra um missa na Basílica de São Sebastião, em Roma, onde o padroeiro do Rio, mártir dos primeiros anos da igreja, está sepultado.

    No mesmo dia, volta ao Rio. Chega à cidade na manhã do dia 25, quando visita, de manhã, a capela da irmãs da caridade, em Bom Sucesso (zona norte). À tarde, há uma missa solene e de acolhida ao novo cardeal, na Catedral.

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