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    Bolivianos são 'vendidos' em feira livre no centro de São Paulo

    ADRIANA FARIAS
    DHIEGO MAIA
    FELIPE SOUZA
    SILVIO CIOFFI
    DE SÃO PAULO

    14/02/2014 18h29

    Um boliviano está sendo procurado sob suspeita de tentar vender dois jovens compatriotas por R$ 1.000 cada em uma feira livre na rua Coimbra, no Brás, na região central de São Paulo.

    De acordo com a Polícia Militar, o suspeito, identificado apenas como Serapio, fugiu. Os jovens estão sob proteção em uma paróquia na capital paulista. Procurados ontem pela Folha, eles não quiseram comentar.

    Editoria de Arte/Folhapress

    O caso, segundo a PM, ocorreu por volta das 18h50 da última segunda-feira. Ele foi revelado pela rádio CBN.

    Segundo o padre Roque Patussi, do Cami (Centro de Apoio ao Migrante), que acompanhou a situação, os jovens bolivianos são maiores de idade e foram aliciados ainda na Bolívia com a promessa de que receberiam US$ 500 mensais (em torno de R$ 1.200) cada um para trabalhar numa confecção.

    Quando chegaram ao local do trabalho, no centro de São Paulo, eles foram informados que o salário seria menor.

    Diante da recusa em aceitar trabalhar, eles entraram em desacordo com o suspeito. Isso teria motivado a tentativa de venda deles.

    O consulado da Bolívia no Brasil informou que vai custear o retorno das duas vítimas ao país de origem.

    REVISTA

    Segundo comerciantes da rua Coimbra ouvidos pela Folha, os rapazes foram oferecidos a pessoas que passavam em frente a uma agência de empregos na rua Coimbra.

    A Polícia Militar foi acionada e, chegando lá, segundo testemunhas, revistou as vítimas como se elas fossem suspeitas. Na confusão, o homem que tentava vender os dois jovens fugiu.

    Questionada ontem, a PM não comentou a maneira como atendeu à ocorrência.

    A comerciante Maria Gutierrez, 40, afirmou que o suspeito pagou para os jovens viajarem ao Brasil.

    "Um homem que passava pela rua não aceitou a proposta para comprar os garotos, mas propôs levar os meninos para trabalhar. Assim, eles mesmos pagariam a dívida, mas não houve acordo", disse Gutierrez.

    A cena revoltou as pessoas que estavam na feira, muito frequentada por imigrantes sul-americanos.

    O segurança Ricardo Pereira de Brito, 43, trabalha na rua Coimbra há dez meses e disse que nunca tinha visto um caso semelhante.

    "Quando o cara [boliviano] tentou vender os dois meninos muita gente ficou revoltada. Ele queria vendê-los para recuperar o dinheiro gasto", afirmou o segurança.

    Os dois jovens acabaram levados pela polícia ao 8° Distrito Policial (Brás). Eles não registraram queixa na delegacia por medo de a denúncia comprometer a vida de suas famílias na Bolívia.

    A Polícia Civil se limitou a dizer que não houve registro de boletim de ocorrência e que o delegado titular, Antonio Tadeu Rossi Cunha, não foi notificado "sobre qualquer representação exigindo a investigação" do caso.

    RELATÓRIO

    O Cami entregou relatório sobre a situação à Coordenadoria de Enfrentamento do Tráfico de Pessoas da Secretaria Estadual de Justiça e Defesa da Cidadania.

    O Ministério Público do Trabalho de São Paulo afirmou que abriu um inquérito para apurar a denúncia.

    Por meio de sua assessoria de imprensa, a procuradora Cristiane Vieira Nogueira, responsável por investigar casos de trabalho escravo na capital, informou que esta é a primeira ocorrência de tentativa de venda de um trabalhador registrada pelo órgão.

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