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    Chuva volta, mas calor recorde deve continuar até março em SP

    EDUARDO GERAQUE
    DE SÃO PAULO

    16/02/2014 01h50

    Não se deixe enganar pelas chuvas que voltaram a cair sobre São Paulo nas últimas quinta e sexta-feira. Elas podem ter ajudado a refrescar a atmosfera, mas não bastaram para afugentar de vez as altas temperaturas –o que não deverá acontecer tão cedo, ao que tudo indica.

    A Folha ouviu especialistas e consultou institutos para responder a dúvida que assombra praticamente todos os paulistanos desde o início do ano: até quando o calor vai durar?

    Vale lembrar que janeiro foi oficialmente o mês mais quente na cidade desde que tiveram início as aferições realizadas pelo Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), há 71 anos, com 31,9º C de temperatura média.

    FEVEREIRO E MARÇO

    A situação não melhorou de maneira significativa no mês seguinte. Com os 36,4° C registrados na estação do Inmet-Mirante de Santana no último dia 7, se atingiu um novo recorde de temperatura máxima para o mês de fevereiro no período 1943-2014.

    Apu Gomes/Folhapress
    Artista de rua Andy Gonzaga, 24, que trabalha na rua 25 de Março, no centro de São Paulo
    Artista de rua Andy Gonzaga, 24, que trabalha na rua 25 de Março, no centro de São Paulo

    De acordo com as previsões meteorológicas para os próximos três meses, os termômetros devem ficar acima das médias históricas até o fim do verão, em março.

    No entanto, é provável que o transtorno causado pelo calor recorde deste ano diminua nos próximos dias. Isso porque deve chover com mais frequência, ao contrário do que vinha ocorrendo
    até a semana passada.

    CAUSA E EFEITO

    Parte do calor fora da curva que os paulistanos vêm enfrentando está ligada à ausência de nuvens no céu.

    "As nuvens refletem o calor do Sol para o alto. Por isso, sem elas, o aquecimento solar [para quem está na Terra] é maior", diz o professor Augusto Pereira Filho, do IAG (Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas) da USP.

    Historicamente, a média de horas de brilho solar em janeiro é de 151,1 horas. Neste ano, contudo, os dados medidos pela Estação Meteorológica do IAG-USP, na zona sul de São Paulo, registraram impressionantes 244,7 horas em janeiro.

    A ausência de nuvens se deve à pouca umidade do ar. Mais pesado e estável, o ar seco funciona como um bloqueador de chuva.

    Em 2014, esse ciclo durou bem acima do esperado. De quebra, deixou as noites e madrugadas mais quentes do que o habitual.

    ESTUFA URBANA

    Nenhum especialista sério se atreveria a relacionar a atual onda de calor extremo às chamadas "mudanças climáticas globais".

    Entretanto, os dados compilados pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) atestam a existência de um novo fenômeno –em curso não somente em São Paulo, mas no mundo todo.

    "Tanto nas áreas urbanas quanto nas áreas rurais as temperaturas estão numa tendência natural de alta", diz José Marengo, cientista ligado ao instituto federal.

    Segundo Marengo, os registros atestam que as ondas de calor nas cidades do Sudeste do Brasil estão aumentando. Isso tem como consequência outro desdobramento preocupante.
    "A ação humana nas cidades pode aumentar o efeito do calor e das chuvas de verão, quando elas conseguem se formar", afirma.

    A conclusão é uma só: uma cidade mais arborizada e com menos concreto, independentemente das mudanças climáticas, significaria um refresco para os dias de calor muito intenso –que continuarão por aí até março, mesmo com o eventual aumento de dias chuvosos entre eles.

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