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    Vazamento de plano de fuga gera crise entre secretarias de SP

    MARIO CESAR CARVALHO
    DE SÃO PAULO

    28/02/2014 03h30

    O vazamento da operação de resgate de Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, chefe da facção criminosa PCC, abalou as relações entre as secretarias da Segurança e da Administração Penitenciária do governo Geraldo Alckmin (PSDB).

    Uma culpa a outra como responsável pela divulgação do plano pelo SBT e pelo jornal "O Estado de S. Paulo".

    Com a publicidade do plano, fugiram os seis investigados que usariam dois helicópteros e um avião para tirar Marcola do presídio em Presidente Venceslau. Acabou ficando comprometida uma investigação conjunta de 13 meses, pelo menos.

    A Secretaria da Administração Penitenciária ficou enfurecida com o vazamento porque foi ela que descobriu o plano de resgate ao interceptar uma conversa de Claudio Barbará da Silva com sua mulher dentro do presídio de Presidente Venceslau, em 6 de janeiro de 2013.

    Barbará contou à mulher que o PCC treinava três integrantes da facção para pilotar helicópteros.

    A descoberta foi feita por meio de escuta ambiental, um método novo nesse tipo de investigação, não por meio de gravação de conversa telefônica, segundo a Folha apurou. A escuta ambiental usava gravadores minúsculos para captar conversas.

    O governador Geraldo Alckmin ficou irritado com o vazamento porque tinha planos de prender os envolvidos no resgate e utilizar o caso como trunfo eleitoral.

    "Lamentavelmente o caso acabou vazando", disse. Depois, elogiou a polícia: "São Paulo não retroage, não se intimida. É a maior polícia do Brasil, a mais preparada".

    Alckmin recebeu o primeiro relatório sobre o plano de resgate há 20 dias e tratava o caso com extremo sigilo.

    O estremecimento entre as secretarias só acentua uma desconfiança que já havia entre o titular da Segurança Pública, Fernando Grella, e seu par na Administração Penitenciária, Lourival Gomes.

    Gomes é ligado ao ex-secretário de Segurança Antônio Ferreira Pinto, que, após a saída do cargo, em novembro de 2012, se tornou um dos maiores críticos da política contra a violência adotada por Geraldo Alckmin.

    Ferreira Pinto disse em entrevista ao "Valor Econômico", em outubro de 2013, que Alckmin "está aproveitando para colher dividendos políticos" ao divulgar que o PCC tinha um plano para matá-lo.

    Ele disse que esse tipo de ameaça era "fanfarronice".

    Pré-candidato a deputado federal pelo PMDB, Ferreira Pinto tornou-se assessor para assuntos de segurança da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). O presidente da Fiesp, Paulo Skaff, é pré-candidato a governador pelo mesmo PMDB.

    Grella negou à Folha que houvesse alguma crise com a Administração Penitenciária.

    A prova das boas relações, segundo ele, é que os dois secretários assinariam o pedido à Justiça para que os chefes do PCC sejam transferidos para o isolamento.

    Questionada pela reportagem, a Secretaria da Administração Penitenciária não quis se pronunciar.

    Ferreira Pinto disse ter tomado conhecimento do plano pela imprensa.

    Colaboraram DANIELA LIMA, REYNALDO TUROLLO JR. e ARTUR RODRIGUES

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