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    Rio de Janeiro

    Filha de PM morto no Alemão declara seu amor ao pai em rede social

    BRUNO CALIXTO
    MARCO ANTÔNIO MARTINS
    DO RIO

    07/03/2014 19h10

    Ao ser atingido por um tiro de fuzil no peito, o soldado Rodrigo Paes Leme, 33, só teve tempo de dizer aos policiais militares que o socorriam: "Manda um beijo para minha filha, que não vai dar mais não, parceiro", avisou.

    O soldado foi baleado na noite de ontem (6) no local conhecido como Quadra do Escadão, no fim da rua 2, na comunidade Nova Brasília, Complexo do Alemão, conjunto de favelas na zona norte do Rio.

    Paes Leme foi o sexto policial lotado em uma UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) que morreu este ano. Três deles eram lotados nos complexos do Alemão e da Penha. Ao todo, 10 PMs morreram em áreas com UPPs em cinco anos.

    Em toda Polícia Militar do Rio, 16 PMs foram mortos, em serviço, em 2013. Este ano, em 40 dias, já morreram 15.

    O secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, e o comandante da PM, José Luís Castro não falaram sobre o assunto. À TV Globo, Beltrame disse que o "projeto continuará, expandirá e que já foi produzida inteligência sobre o assunto".

    Mesmo sepultado com honras militares, Paes Leme não contou com a presença do coronel Castro. O jovem soldado, formado há dois anos, vem de uma família de policiais: o pai e o avô eram PMs. Como ele, o pai também morreu com um tiro no peito.

    Antes do sepultamento, na zona oeste do Rio, a filha adolescente do policial escreveu uma carta de despedida em uma rede social.

    "Me desculpa pai, se tantas vezes eu falhei. Me desculpa por brigar contigo. Me desculpa por ter, tantas vezes, deixado de dizer que o amava por orgulho de dizer mas, agora, eu daria tudo para poder olhar em seus olhos e dizer que eu amo você. Faria o impossível para segurar sua mão de novo. Daria minha vida por você, pai", escreveu a adolescente.

    Sobre o caixão, a bandeira do Brasil. Paes Leme atuava na UPP do Parque Proletário, na Penha, no Grupo Tático, criado para percorrer a comunidade com fuzis em busca de drogas e armas.

    A atuação dessas equipes se distancia da política de proximidade defendida pelas UPPs.

    Essas equipes foram criadas nas UPPs pelo ex-coordenador das unidades e atual número 2 da PM, o coronel Paulo Henrique de Moraes. Em diferentes comunidades, os grupos são acusados de abusos e maus-tratos a moradores. Ex-integrantes desses grupos, na Rocinha, estão presos acusados do desaparecimento do pedreiro Amarildo de Souza, em julho.

    Formadas por recrutas, essas equipes, nos complexos do Alemão e Vila Cruzeiro, por exemplo, patrulham becos e vielas das favelas durante a madrugada.

    De acordo com policiais, esses jovens estão se tornando alvo fácil da ação de traficantes que conhecem melhor a região.

    Dos oito PMs baleados este ano, cinco são soldados. Todos atuando nos dois complexos de favela, na zona norte do Rio.

    OUTRO CASO

    Ontem, o soldado Wagner Cruz morreu após ficar internado por uma semana. O policial só fez cinco plantões na UPP. Ele estava formado há um mês e meio.

    Segundo a assessoria de imprensa das UPPs, ele foi baleado no rosto no dia 28 de fevereiro, por volta de 1h da madrugada, enquanto realizava patrulhamento com outros
    policiais da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) Vila Cruzeiro, no Complexo da Penha.

    Durante o confronto com criminosos, Cruz foi atingido no rosto. O enterro será neste sábado (8), às 9h, no Cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap.

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