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    Brasileiro doa mais para mendigos e igrejas, diz estudo

    JAIRO MARQUES
    DE SÃO PAULO

    09/03/2014 01h50

    Seis pessoas se revezavam no cruzamento das avenidas Duque de Caxias e Rio Branco, no centro de São Paulo, na última sexta-feira pela manhã, atrás de esmolas. Em 20 minutos, trinta motoristas abriram os vidros dos carros parados no semáforo e deram moedas aos pedintes.

    Essa modalidade de ajuda ao próximo é a mais comum entre os brasileiro, ao lado de doações a igrejas, segundo pesquisa realizada pelo Idis (Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social) e a Ipsos Public Affaris.

    Ambas tiveram 30% da predileção, bem à frente de doações a ONGs, com 14%.

    O levantamento ouviu 3.000 pessoas de 70 cidades de nove regiões metropolitanas no país entre julho e dezembro do ano passado. A margem de erro é de três pontos percentuais.

    "O resultado mostra que o brasileiro não doa de forma estratégica, buscando desenvolvimento de soluções para os problemas do país. A doação é assistencialista", diz Paula Fabiani, diretora-executiva do Idis.

    Segundo ela, o impacto positivo seria muito maior se todo o percentual que é doado a pedintes fosse para organizações sociais.

    A tendência para doar esmolas é maior na região Nordeste (40%) e entre os mais pobres (33%).

    Nas classes A e B, a solidariedade com ONGs foi citada com maior frequência (17%), mas ainda atrás das igrejas (25%), que empatam tecnicamente com os pedintes (27%).

    Entre as razões para não doar, foram citadas falta de dinheiro (54%), falta de pedido de auxílio (18%) e desconfiança nas ONGs (12%).
    divulgação

    Para Adriana Ramos, diretora-executiva da Abong (Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais), faltam recursos para divulgar as entidades.

    "É muito difícil falar com a sociedade porque os recursos para essa comunicação não estão disponíveis. Não há nenhum fundo público para apoiar a criação, a manutenção e o fortalecimento das organizações", afirma.

    Sobre a desconfiança, Adriana diz que "nos últimos anos houve uma criminalização das ONGs, após escândalos envolvendo o governo".

    "Tanto o governo como a imprensa acabam focando o problema nas organizações, o que gera um clima de desconfiança. Com o desconhecimento, a sociedade acaba não tendo argumentos para se contrapor."

    Um dos pontos que mais surpreendeu os organizadores da pesquisa foi em relação ao estímulo que leva à doação. Em 73% dos casos, o brasileiro não se sente motivado a doar dinheiro ou a fazer trabalho voluntário.

    "O Brasil precisa desenvolver a cultura de solidariedade e discutir mais os benefícios que a ajuda a organizações pode trazer ao país e às pessoas", afirma Paula.

    A pesquisa mostrou ainda que 84% dos entrevistados desconhecem que podem deduzir doações no Imposto de Renda. Parte do recurso que seria pago à União pode ir para entidades.

    Segundo a diretora do Idis, conseguir incentivo fiscal é "complexo e burocrático". Só organizações grandes conseguem cumprir as exigências.

    "O doador precisa ter o recibo, ter a certeza de que a ONG informou à Receita a doação. Simplificar a lei e ampliar as formas de captação ajudariam bastante", afirma.

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