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    Cheia atinge quatro Estados da região Norte e afeta 22 mil famílias

    LUCAS REIS
    DE MANAUS
    FÁBIO PONTES
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM RIO BRANCO (AC)

    11/03/2014 17h37

    A cheia dos rios na região Norte do país já afeta cidades no Amazonas, Pará, Rondônia e Acre. Mais de 22 mil famílias estão desalojadas, desabrigadas ou ilhadas em casa.

    Em Porto Velho, o nível do rio Madeira bateu novo recorde histórico (19,04 m) e afeta diretamente 2.256 famílias. Desde o fim de fevereiro, a capital de Rondônia está em estado de calamidade pública.

    Nesta terça (11), uma comitiva viajou a Brasília para pedir ajuda federal. Segundo a prefeitura, as perdas com a agropecuária somam quase R$ 1 bilhão, e 31 prédios públicos foram danificados, gerando um prejuízo de R$ 300 milhões.

    A cheia também obstrui as principais rodovias federais da região, como a BR-364, único acesso por terra ao Acre, que sofre com a falta de abastecimento de alimentos e combustível. Além de alta nos preços, há escassez de determinados alimentos em alguns estabelecimentos do Estado.

    Segundo a Policia Rodoviária Federal de Rondônia, o nível de água na rodovia já chega a um metro. Apenas veículos altos e pesados conseguem atravessar a pista. Um sistema de balsa está sendo providenciado para facilitar o acesso ao Acre.

    Os voos realizados entre Porto Velho (RO) e Rio Branco (AC) pelos aviões de carga da FAB (Força Aérea Brasileira) não suprem a demanda do mercado acriano de alimentos, segundo um diretor da Associação de Supermercados do Acre, Adem Araújo.

    Quase 90% dos alimentos vendidos no Acre vêm de fora. Com isso, o quilo de tomate em alguns estabelecimentos já supera R$ 6. O saco de cinco quilos de arroz, antes vendido a R$ 10, chega a custar R$ 13.

    "A situação é desastrosa", disse o coronel Lioberto Caetano, coordenador da Defesa Civil de Rondônia.

    Celiano Soares - 9.mar.14/Folhapress
    Cheia atinge quatro Estados da região Norte e afeta 22 mil famílias; imagem mostra rio Madeira
    Cheia atinge quatro Estados da região Norte e afeta 22 mil famílias; imagem mostra rio Madeira

    A Justiça Federal determinou ontem (10) que as usinas Jirau e Santo Antônio, em Rondônia, atendam as necessidades básicas -moradia, alimentação, transporte, educação e saúde- das famílias atingidas pela cheia do rio Madeira que moram acima de cada uma das hidrelétricas, sob pena de multa diária de R$ 100 mil para cada uma delas.

    Segundo o juiz federal Herculano Martins Nacif, da 5ª Vara Ambiental e Agrária de Rondônia, há vínculo entre a cheia histórica do rio e as usinas instaladas no local. A decisão também prevê que um novo estudo de impacto ambiental seja feito no local.

    A usina Jirau informou que só se pronunciará sobre o caso em juízo, mas afirmou que já ajuda as famílias atingidas pela cheia.

    Em nota, a Santo Antônio informou que ainda que não foi citada no processo, mas que contestará a decisão porque, segundo afirma, todos os estudos foram aprovados pelos órgãos licenciadores. A usina também informou que já vem prestando apoio humanitário, com cestas básicas, água, combustível e material de apoio para as famílias desabrigadas.

    A situação também é crítica no Amazonas, com um município em estado de calamidade (Humaitá) e nove cidades em situação de emergência. Segundo a Defesa Civil do Estado, cerca de 66 mil pessoas foram diretamente atingidas pelas cheias dos rios Madeira, Purus e Juruá.

    No Pará, a cheia dos rios Xingu e Tocantins deixou 547 famílias desabrigadas e 653 desalojadas. Há, ainda, segundo a Defesa Civil, quase 5.000 famílias que preferiram permanecer em casa -muitas delas ilhadas- e estão sob vigilância dos bombeiros.

    ACRE

    O bairro Taquari, localizado às margens do rio Acre, na periferia de Rio Branco, é um dos mais afetados pela cheia na capital do Estado.

    Em muitos imóveis, a água quase alcança o teto. Mesmo assim, parte dos moradores construiu palafitas para elevar a altura do assoalho e não ter de recorrer aos abrigos da prefeitura.

    "É muito ruim ir para lá [o abrigo]. É desconfortável, não há privacidade. Nada melhor do que o conforto de casa", diz Aparecida Soares Cavalcante, 52, moradora do Taquari há 27 anos.

    Além da inundação, moradores do bairro convivem com falta de energia, cortada por medida de segurança.

    José Aguiar Fernandes, 42, proprietário de uma assistência técnica na principal rua do bairro, diz que até a semana passada os veículos ainda transitavam pela via.

    Com a água acima da cintura, ele teme deixar o local por causa dos inúmeros aparelhos de televisão de seus clientes, agora suspensos em prateleiras para não molhar.

    O guardador de carro José Alves da Silva, 32, ainda não deixou a casa, uma palafita que não foi inundada. "Vou ficar até quando for possível e espero que o rio não suba mais. Infelizmente não posso ficar aqui o dia todo, pois preciso trabalhar, mas a preocupação é grande", afirma.

    Por onde passavam carros e ônibus, agora o único tráfego é de canoas. Os "catraeiros" (como são conhecidos os condutores das embarcações) cobram R$ 1 de cada passageiro. O preço sobe se for preciso levar a mudança. O Exército disponibilizou cem homens para auxiliar a remoção das famílias

    Ao meio-dia desta terça (11), o nível do rio Acre estava em 16,64 m -ou 2,64 m acima da cota de transbordamento. No total, mais de 3.000 moradores de Rio Branco estão em abrigos montados pelo governo estadual e a prefeitura.

    Segundo o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), a região Norte, sobretudo o Acre, continuará sofrendo com a chuva nos próximos dias. "Entre 11 e 19 de março está previsto chuva de 100 mm no Acre. Parece pouco, mas já está super encharcado, não tem mais onde cair água. Qualquer chuva vai agravar o problema", diz o meteorologista Manoel Rangel.

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