Em vez de carteiras escolares, há cama, sofá e guarda-roupa. Próximo à janela, um fogão compõe a cozinha improvisada, e a lousa ostenta os porta-retratos de família.
Salas de aula de 22 escolas municipais e estaduais de Porto Velho se transformaram em quitinetes improvisadas por famílias desabrigadas pela cheia história do rio Madeira, em Rondônia, que completa um mês.
A ocupação das escolas públicas atrasa o ano letivo no Estado. Ao menos 16 mil crianças e adolescentes estão sem aulas por conta da crise.
Salas de aula viram quitinetes em RO
Em algumas escolas, até duas famílias dividem uma única sala de aula. Os pátios são utilizados para tarefas como lavar roupa e banho das crianças, que sofrem com o calor dentro das salas.
"Viver assim é difícil mesmo, as famílias se dão bem, mas falta espaço e privacidade", diz a dona de casa Francisca Braga de Albuquerque, 62, enquanto lava a roupa dos seus quatro filhos, todos agrupados em uma sala de aula de uma escola estadual.
A maior parte da comida é doada pela população da cidade e distribuída pela Defesa Civil. E cada família cozinha a própria refeição, dentro da sala. "Só pediram pra gente não colocar o fogão perto da lousa para não manchar", diz Francisca.
A Defesa Civil diz que prepara a retirada das famílias das escolas para que o ano letivo possa ser retomado. Elas devem ser encaminhadas a um ginásio esportivo.
Segundo o último relatório do órgão, das 760 famílias abrigadas provisoriamente, 406 estão em escolas e creches. Dos 41 abrigos, mais da metade são escolas. Igrejas e entidades assistenciais são outros locais usados para abrigar as famílias.