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    Metade dos detentos de São Paulo já teve familiares na prisão

    REYNALDO TUROLLO JR.
    DE SÃO PAULO

    23/03/2014 03h00

    De cada dois detentos do sistema penitenciário de São Paulo, um já teve algum membro da família na prisão, já foi condenado anteriormente por outro crime ou conviveu na infância com pais que consumiam álcool.

    Essas são algumas das conclusões do estudo "Presos em São Paulo - histórias de vida e justiça criminal", da Escola de Administração de Empresas da FGV (Fundação Getúlio Vargas), que será divulgado amanhã na capital.

    Os secretários Lourival Gomes (Administração Penitenciária) e Fernando Grella (Segurança Pública) são esperados no evento. Dados sobre a situação dos presídios também serão divulgados.

    A pesquisa, feita pela primeira vez no Estado em 2013, foi realizada simultaneamente em regiões da Argentina, Chile, El Salvador, Peru e México, com a ajuda de parceiros nesses países.][

    Apu Gomes/Folhapress
    Detentos tomam banho de sol no Centro de Detenção Provisória de Pinheiros, zona oeste
    Detentos tomam banho de sol no Centro de Detenção Provisória de Pinheiros, zona oeste

    Em São Paulo, a amostragem estatística considerou 751 presidiários e presidiárias de nove unidades prisionais na região metropolitana e no interior, todos condenados.

    "O ambiente familiar é importante para a inclusão da pessoa no que chamamos de 'carreira criminal'. Ser criminoso hoje é quase um papel na sociedade", diz um dos coordenadores do projeto, José de Jesus Filho, integrante da Pastoral Carcerária.

    Segundo o pesquisador, 48,3% dos detentos de São Paulo declararam ter tido algum familiar preso, o que é um dado "alarmante". Nesse quesito, São Paulo ficou atrás apenas do Chile (56,4%).

    A discussão vem à tona em uma semana marcada por uma crise no sistema penitenciário paulista, que tem origem na greve dos agentes de segurança. Carceragens em delegacias ficaram superlotadas porque os grevistas conseguiram impedir o transporte de presos entre as unidades do sistema.

    São Paulo tem cerca de 202 mil presos, 38% da população carcerária de todo o país.

    Outro dado considerado relevante por Jesus Filho é que 26,8% dos entrevistados contaram ter fugido de casa antes dos 15 anos. Os motivos são diversos, mas os principais dão ideia da degradação do ambiente familiar, segundo o pesquisador: 35,5% disseram que saíram de casa por sofrer violência doméstica.

    Outros 10,8% afirmaram ter fugido de casa por causa do alcoolismo ou do uso de drogas pelos pais e 7,3%, por gostarem de estar na rua.

    A reincidência no crime atinge 49,4% dos detentos ouvidos. Também nesse quesito São Paulo só perdeu para o Chile (52,9%). Peru e El Salvador tiveram os menores índices, de 16,1% e 18,2%.

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