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    Rio de Janeiro

    Para coronel, ocupação da Maré será mais difícil que a do Alemão

    MARCO ANTÔNIO MARTINS
    DO RIO

    29/03/2014 20h52

    Em 2011, assim que chegou ao complexo do Alemão, na zona norte do Rio, para integrar a missão de ocupação do Exército, o coronel Fernando Montenegro, 48, resolveu filmar as abordagens de militares aos moradores da favela.

    Ação que também passou a registrar, em vídeo, flagrantes dos traficantes vendendo drogas aos usuários.

    A prática, elogiada pelo Ministério Público, fez com que as imagens passassem a integrar processos judiciais.

    "Filmar é um dos instrumentos de defesa dos militares. As pessoas ficam mais inibidas e, no início, quando começamos a usar as câmeras, elas eram muito agressivas. E as tropas também precisam ser acompanhadas de perto", explica Montenegro, agora na reserva.

    O sucesso das filmagens levou os militares a repetir a estratégia. Ela será utilizada no complexo da Maré, conjunto de 15 favelas que começa a ser ocupada amanhã-primeiro por forças de segurança estaduais e, a partir da próxima semana, pelo Exército.

    Montenegro diz que a experiência no Alemão e na Penha deixou o Exército preparado, como nunca esteve, para a ocupação da Maré. A Força, segundo ele, levará ainda para a comunidade as experiências adquiridas no Haiti.

    Segundo o coronel, a dificuldade da ação está no fato de o complexo da Maré ser basicamente plano, o que faz com que faltem pontos de observação da tropa.

    A estratégia de "ver o inimigo do alto", segundo ele, auxiliou na ocupação do Alemão e da Penha, de novembro de 2010 a abril de 2012.

    "No Alemão ocupamos os teleféricos, caixas d'água e as casas dos traficantes que foram abandonadas. Tínhamos uma visão do terreno de cima, o que nos dava uma vantagem. Na Maré, a área é plana. Se estiver só andando em becos e não ocupar a laje, as tropas vão ficar à mercê de ataques", afirma.

    Ex-integrante da equipe de Forças Especiais, um grupo de elite, o coronel Montenegro afirma que ao usar a tropa de paraquedistas, a ocupação "começa com os melhores" homens.

    "O crime nessas regiões manipula parte da população que simpatiza e até ganha dinheiro deles. E ainda há os defensores dos Direitos Humanos que ouvem apenas um lado e são manipulados. É preciso ver que há pessoas que sofrem com a violência do tráfico", diz Montenegro.

    Para ele, o vazamento sobre a data da ocupação, como ocorreu, retira o fator surpresa e a possibilidade de se apreender drogas, armas e dinheiro e, assim, dar um real prejuízo aos traficantes.

    "A fuga dos principais criminosos já ocorreu e o armamento mais valioso (o fuzil) foi retirado. Isso não vai mudar o resultado final da operação, mas ele poderia ser mais significativo", afirma.

    O coronel da reserva justifica a ação enérgica dos militares. "As pessoas precisam entender que a Maré não é Copacabana. A situação é diferente e o local é diferente. Os militares precisam ser educados no trato com os moradores, mas as pessoas precisam entender que é preciso agir."

    Segundo Montenegro, ninguém nasce na testa com o título de bandido. "É preciso revistar e averiguar as pessoas. No Alemão, identificamos muitos traficantes do Comando Vermelho por meio de tatuagens, que tinham características próprias".

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