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    Oficiais da PM dizem que só revidaram tiros de presos no Carandiru

    MARINA GAMA CUBAS
    ANDRÉ MONTEIRO
    DE SÃO PAULO

    31/03/2014 22h16

    Oficiais da Polícia Militar que comandaram a invasão do terceiro andar durante o massacre do Carandiru afirmaram nesta segunda-feira (31) que só atiraram em presos para revidar tiros e agressões sofridas durante a ação.

    Os depoimentos ocorreram no primeiro dia do quarto julgamento de policiais envolvidos no massacre, que levou a morte de 111 presos. Nessa etapa, estão sendo julgados 15 PMs do COE (Comando de Operações Especiais) pela morte de oito presos. Eles também são acusados por duas tentativas de homicídio.

    O primeiro a depor foi o coronel Arivaldo Salgado, na época comandante do COE. Segundo ele, "cada vez que os presos nos agrediam, houve o revide".

    Walmir Leite, que na época era tenente do grupo, disse que as armas "foram usadas até como proteção, para impedir que os presos se aproximassem da tropa". Segundo ele, os detentos estavam em um número muito maior que o de policiais.

    "Se eles cercassem o grupo de policiais, com certeza seríamos massacrados", afirmou.

    Leite, que se aposentou da PM há cerca de um mês, declarou aos jurados que passou boa parte da carreira no Corpo de Bombeiros, que ajudou a salvar muitas vidas e que não gostaria de ser tratado como um assassino.

    "Naquele dia saí de casa com a mesma proposta dos meus 31 anos de serviços: salvar e proteger. Sempre arrisquei minha vida por pessoas que não conhecia."

    Terceiro a depor, o tenente-coronel Armando Moreira, na época tenente do COE, disse que chegou a ser atingido por dois tiros, que atingiram seu colete à prova de balas. O policial afirmou ter revidado e visto o agressor cair.

    Até as 21h30 de hoje, outros cinco policiais que na época eram do COE foram interrogados e também confirmaram que só atiraram como resposta a ataques de presos rebelados.

    A previsão do juiz Rodrigo Tellini é que todos os réus sejam ouvidos hoje e que os debates entre defesa e acusação ocorram amanhã.

    Nesta segunda-feira também prestaram depoimento três testemunhas: o perito criminal Osvaldo Negrini Neto; o secretário de segurança pública na época, Pedro Franco de Campos e o desembargador Fernando Torres Garcia, que era juiz-auxiliar da corregedoria de presídios.

    O início do júri foi atrasado em cerca de cinco horas porque uma das testemunhas convocadas pela defesa, o agente penitenciário Francisco Carlos Leme, que chefiava o plantão no dia do massacre, não havia sido localizado até o início da tarde. Ele compareceu ao fórum, mas depois acabou dispensado pela defesa.

    Devido ao grande número de réus e de vítimas, o julgamento está sendo feito em etapas, conforme os andares do antigo prédio. Ao todo já foram condenados 58 PMs pelas mortes ocorridas no primeiro, segundo e quarto andares. Eles recorrem em liberdade.

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