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    Júri do massacre do Carandiru será retomado nesta terça com os debates

    MARINA GAMA CUBAS
    ANDRÉ MONTEIRO
    DE SÃO PAULO

    01/04/2014 00h48

    O quarto julgamento de policiais acusados de envolvimento no massacre do Carandiru encerrou o primeiro dia por volta da meia-noite desta segunda-feira (31). O júri será retomado na tarde de terça, com os debates entre acusação e defesa.

    Nessa etapa estão sendo julgados 15 policiais militares do COE (Comando de Operações Especiais), acusados de matar oito detentos, após rebelião ocorrida em outubro de 1992. Ao todos, 111 presos foram mortos na ocasião. Pelos crimes, outros 58 PMs já foram condenados, e recorrem em liberdade.

    O primeiro dia do júri começou atrasado por conta da ausência de uma testemunha, que depois de localizada foi dispensada pela defesa. Durante a tarde foram ouvidas as testemunhas e à noite ocorreram os interrogatórios dos réus.

    Nesta terça-feira, a Promotoria será a primeira a expor os argumentos aos jurados. Em seguida é a vez do advogado dos réus apresentar a defesa. A acusação tem ainda direito a réplica e a defesa, a tréplica. Ao todo, essa fase pode durar nove horas, podendo terminar apenas na quarta-feira (2).

    DESABAFO

    Durante o interrogatório, os réus voltaram a afirmar que foram atacados pelos presos e, por isso, revidaram.

    Um dos policiais, que disse ter deixado a corporação no ano seguinte ao massacre, fez um desabafo aos jurados depois de responder às perguntas do juiz.

    "Só vi aquelas fotos de presos mortos no noticiário do dia seguinte, e fiquei tão estarrecido quanto qualquer um. Carrego um fardo há 21 anos que não tem sido fácil. Ser acusado por algo que não cometi, do excesso cometido por outros policiais, é uma coisa que até hoje não consigo entender. Não fomos nós que cometemos, quem foi não sei dizer", disse Marcos do Nascimento Pina, ex-soldado e hoje funcionário de uma loja.

    Assim como ele, todos os integrantes da tropa do COE afirmaram no júri que sua parte na operação consistiu em dominar os presos rebelados no terceiro andar do Carandiru e que depois outros policiais assumiram a situação –o que deixa margem para a hipótese dos presos terem sido mortos depois que eles saíram.

    Os primeiros a serem interrogados foram os oficiais do COE, que afirmaram ter atirado depois de serem alvo de tiros disparados pelos detentos. "Cada vez que os presos nos agrediam, houve o revide", afirmou o coronel Arivaldo Salgado, na época capitão do COE e hoje aposentado.

    Após os interrogatórios, o promotor Márcio Friggi afirmou à imprensa que o dia foi marcado por "muita confusão, muita contradição e pouca verdade", pois "os réus mais uma vez optaram pelo caminho da mentira".

    O advogado Celso Vendramini, que defende os acusados, deixou o fórum sem falar com os jornalistas.

    Nesta segunda-feira também prestaram depoimento três testemunhas: o perito criminal Osvaldo Negrini Neto; o secretário de segurança pública na época, Pedro Franco de Campos e o desembargador Fernando Torres Garcia, que era juiz-auxiliar da corregedoria de presídios.

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