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    Durante debate, promotor contesta tese de confronto no Carandiru

    MARINA GAMA CUBAS
    LEANDRO MACHADO
    DE SÃO PAULO

    01/04/2014 17h58

    O julgamento do massacre do Carandiru foi retomado na tarde desta terça-feira no Fórum da Barra Funda, zona oeste de São Paulo, com debates entre acusação e defesa. O promotor Eduardo Olavo Canto Neto contestou a tese da defesa de que os PMs agiram para se defenderem de ataques de presos.

    Ao todo, estão sendo julgados nessa quarta etapa do júri, 15 policiais militares do COE (Comando de Operações Especiais), que teriam atuado no terceiro andar do pavilhão 9 da prisão para conter a rebelião ocorrida em outubro de 1992.

    Durante a argumentação da acusação, o promotor afirmou que os policiais do COE mentiram ao dizer que havia escudeiros na tropa durante a ação da Casa de Detenção.

    Ele mostrou aos jurados documento da época do massacre que registrou todos os materiais utilizados pela tropa na ocasião. Nele, constava que a tropa do COE portava seis facas e quatro coletes balísticos, além das armas de fogo, sem mencionar os escudos.

    PERÍCIA

    A acusação, durante sua argumentação, tentou convencer os jurados de que mesmo que o confronto balístico fosse feito na época, ele estava "fadado ao fracasso". Isso porque, segundo o promotor Eduardo Olavo Canto Neto, as armas não foram corretamente encaminhadas para o IC (Instituto de Criminalística) para realização da perícia.

    A ausência desse exame é um dos principais argumentos da defesa dos PMS, que afirma que, sem ele, não é possível identificar a autoria de cada morte.

    A acusação, no entanto, mostrou uma das armas utilizadas na ação e que, segundo boletim de ocorrência apresentado em plenário, foi usada no dia seguinte ao massacre, em outra ação policial.

    O promotor ainda voltou a afirmar as duas principais teses da acusação: de que a ação coletiva dos policiais promoveu o resultado final, a "execução" dos detentos e que apesar da entrada dos PMs ser necessária, houve um excesso de violência por parte dos policiais.

    ABSOLVIÇÃO

    Nessa etapa, os réus estão sendo julgados pela morte de oito presos e duas tentativas de homicídio. A acusação, no entanto, pediu a absolvição dos réus pelo homicídio de quatro presos pelo fato de eles terem sido mortos por arma branca.

    Para o Ministério Público, ainda que a tropa do COE portasse facas, não seria possível afirmar com precisão se foram os policiais ou os próprios detentos os responsáveis pelas quatro mortes.

    Canto Neto ainda pediu a absolvição dos policiais pelas duas tentativas de homicídio pelos quais eles também respondem –as vítimas não compareceram ao julgamento.

    Segundo ele, os jurados não puderam ouvir a versão das vítimas mesmo elas tendo sido chamadas para ir ao tribunal. Ele ainda afirmou que os depoimentos desses sobreviventes no processo estavam confusos.

    Após duas horas e meia de argumentação da acusação, o juiz Rodrigo Telline fez uma pausa e a sessão foi retomada por volta das 16h30 para a exposição da defesa.

    Devido ao grande número de réus e de vítimas, o julgamento está sendo feito em etapas, conforme os andares do antigo prédio. Ao todo já foram condenados 58 PMs pelas mortes ocorridas no primeiro, segundo e quarto andares. Eles recorrem em liberdade.

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