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    PMs do Carandiru não podem ser julgados como parte da ditadura, diz defesa

    LEANDRO MACHADO
    MARINA GAMA CUBAS
    DE SÃO PAULO

    01/04/2014 20h28

    O advogado dos PMs acusados de atuar no terceiro andar do pavilhão 9 durante o massacre do Carandiru, Celso Vendramini, disse nesta terça-feira que seus clientes não podem ser julgados como integrantes da ditadura militar.

    "Não podemos analisar e julgar 15 homens como se fossem da ditadura militar", disse ele, no plenário do fórum Barra Funda, zona oeste de São Paulo. "O revanchismo comunista contra a PM e contra a ditadura, que eu nunca aceitei, é algo inconcebível", completou o advogado.

    Ao todo, estão sendo julgados nesta última etapa do júri 15 policiais militares do COE (Comando de Operações Especiais), que teriam atuado no terceiro andar da Casa de Detenção do Carandiru, em outubro de 1992.

    Para o advogado, não é possível comparar os excessos que ocorreram no período histórico lembrado nesses últimos dois dias a ação dos policiais no Carandiru.

    Vendramini voltou a citar a tese da individualização da conduta. Segundo ele, não é possível apontar quais dos policiais efetivamente mataram os presos porque não foram feitos exames balísticos. "Se um policial deu dois tiros, como podemos condená-lo por matar quatro pessoas?", questionou.

    A defesa também argumentou que os policiais atiraram em legítima defesa, pois os detentos atacaram a tropa, inclusive com armas de fogo.

    O advogado ainda mostrou três escudos que, segundo ele, foram utilizados pelos policiais durante a invasão da Casa de Detenção. Nos objetos, apontou Vendramini, havia marcas de tiros que comprovariam o ataque dos detentos aos policiais.

    Mais cedo, no entanto, a Promotoria apresentou aos jurados documento da época do massacre que registrou todos os materiais utilizados pela tropa na ocasião. Nele, constava que a tropa do COE portava seis facas e quatro coletes balísticos, além das armas de fogo, sem mencionar os escudos.

    Devido ao grande número de réus e de vítimas, o julgamento está sendo feito em etapas, conforme os andares do antigo prédio. Ao todo já foram condenados 58 PMs pelas mortes ocorridas no primeiro, segundo e quarto andares. Eles recorrem em liberdade.

    ABSOLVIÇÃO

    O Ministério Público pediu na tarde de hoje que os jurados absolvam os réus pelo homicídio de quatro presos uma vez que eles teriam sido mortos por arma branca.

    Para a acusação, não seria possível afirmar com precisão se foram os policiais ou os próprios detentos os responsáveis pelas quatro mortes.

    O promotor Eduardo Olavo Canto Neto ainda pediu a absolvição dos policiais pelas duas tentativas de homicídio.

    Segundo ele, os jurados não puderam ouvir a versão das vítimas mesmo elas tendo sido chamadas para comparecer ao tribunal. Ele ainda afirmou que os depoimentos desses sobreviventes no processo estavam confusos.

    O julgamento retorna amanhã, às 9h, com a réplica da acusação e a tréplica da defesa. Após essa etapa, os jurados se reunirão na sala secreta para decidir pela condenação ou absolvição dos réus.

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