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    'Me senti um animal', diz brasileira ameaçada de expulsão da França

    GRACILIANO ROCHA
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM PARIS

    04/04/2014 03h30

    Thaís Moreira, 20, diz que não consegue esquecer, "nem por um minuto", que não pertence à França, país onde vive há cinco anos como imigrante em situação irregular.

    Paranaense de Ubiratã, a estudante de fotografia recebeu um ultimato para deixar a França quando tentou regularizar sua situação.

    O caso ganhou repercussão depois que colegas e professores de Thaís fizeram manifestações em Saint-Denis (ao norte de Paris). As autoridades francesas voltaram atrás.

    Arquivo pessoal
    Me senti um animal' diz brasileira ameaçada de expulsão da França
    'Me senti um animal' diz brasileira ameaçada de expulsão da França

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    Folha -Por que você veio para a França?
    Thaís Moreira - Minha mãe era secretária em Ubiratã. Depois que ela teve minha irmã [em 2007], ficou sem trabalho. Ela veio porque conhecia pessoas aqui. Eu e meu irmão chegamos em 2009.

    Como foi sua adaptação?
    Quando cheguei não sabia nem falar "bom dia" em francês, mas fiz o máximo para me integrar. No meu primeiro ano aqui, estudei numa classe para estrangeiros antes de ir para a escola. Fui a melhor aluna e fui para a escola.

    Seu futuro está na França?
    Quero ser fotógrafa de moda e Paris é a capital da moda. Tenho muito mais chance aqui do que no Brasil.

    Como é viver em um país sem documentos?
    Sempre dei um jeito de esconder o sotaque. Não era tímida. Aqui fiquei bem reservada para não notarem que sou uma "sans papier" ["sem papeis", em francês].
    Não posso ter bolsa de estudos, abrir conta ou viajar. A gente não consegue esquecer, nem por um minuto, que não faz parte daqui.

    Como foi que você soube da ordem de expulsão?
    Quem mora há mais de cinco anos e tem três anos de estudo aqui tem direito a se regularizar. É o meu caso e fiz o pedido. Alguns dias depois, foi recusado, mas junto veio uma ordem para que eu deixasse o país em 30 dias.

    Como você se sentiu?
    Perdi meu chão. Lógico que eu pensava na possibilidade de ser recusado, mas nunca ser expulsa.

    E o que você fez então?
    Liguei pro diretor da escola e ele me disse: "nós vamos te ajudar". Minha professora organizou os professores da escola e os alunos apoiaram. Fizeram uma manifestação e um abaixo-assinado.

    Você sofreu hostilidade?
    Teve, sim, de gente que apoia a Frente Nacional [partido de extrema-direita, anti-imigração]. Não tive contato direto com elas, mas num artigo no "Le Monde" teve muito comentário negativo.

    Como foi, para você, ver o seu caso virar um debate público?
    Quando começou a sair nos jornais, eu me senti como um animal em extinção e que precisavam proteger esse animal. Foi muito ruim.

    O que pretende fazer agora?
    Semana que vem vou entregar de novo um pedido de visto. Uma hora consigo.

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