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    Dorath Pinto Uchôa (1927-2014) - Uma bisavó arqueóloga

    FABRÍCIO LOBEL
    DE SÃO PAULO

    06/04/2014 00h01

    Quem visse a bisavó Dorinha quietinha e vidrada na novela das 21h dificilmente diria que, dias antes, ela estava acampada em uma ilha deserta e sem energia elétrica.

    Morreu no dia 28 de março, aos 86, um dos alicerces da arqueologia brasileira. O "título" foi dado pela Sociedade de Arqueologia Brasileira, que ela ajudou a fundar nos anos 80.

    Na década de 60, depois de se separar do professor decano da geografia física Aziz Ab'Saber com quem teve duas filhas, Juçara e Janaina, Dorinha cursou geografia.

    Especializou-se, então, em arqueologia em uma época em que a atividade não recebia incentivo acadêmico.

    Dorinha passou a estar sempre em algum canto do litoral brasileiro descobrindo rastros da vida do homem pré-histórico no país.

    Nessas ocasiões, sua alimentação se resumia a sardinhas e arroz feitos em uma fogueira ao lado de uma barraca onde dormia. Essa rotina durou até os 84 anos.

    Dorinha, no entanto, também fez questão de acompanhar de perto o crescimento das filhas, netos e bisnetos.

    Dirigindo sua Brasília –com luvas de couro para não machucar as mãos–, levava os netos para suas "aventuras", como visitas aos laboratórios do Museu de Arqueologia e Etnografia da USP, repleto de esqueletos.

    Fazia ainda questão de acordar cedo e cozinhar seu vatapá para toda a família em ocasiões especiais.

    Internada com pneumonia, ao perceber que estava perto da morte, chamou as filhas e os seis netos e dois bisnetos para despedir-se e dizer que havia sido feliz.

    coluna.obituario@uol.com.br

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