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    Correção de pesquisa do Ipea faz cair denúncia de sites machistas

    HELOISA BRENHA
    DE SÃO PAULO

    08/04/2014 03h30

    Desde que o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) assumiu, na última sexta-feira, um erro na pesquisa sobre violência contra mulher, houve um revés na campanha antiestupro difundida pelas redes sociais.

    Após o instituto corrigir de 65% para 26% a proporção de brasileiros que apoiam ataques a mulheres que mostram o corpo, a média diária de sites denunciados por incitação ao estupro diminuiu 98%, mostram dados da Safernet fornecidos à Folha.

    A ONG monitora crimes e violações aos direitos humanos na internet em cooperação com o Ministério Público e a Polícia Federal.

    Nos nove dias entre a divulgação da pesquisa, em 27 de março, e a da errata, a organização recebeu 4.872 denúncias de sites pró-estupro, seis vezes mais do que o restante do mês de março.

    Nos últimos três dias, porém, quando o erro da pesquisa já era conhecido, a ONG recebeu só 31 queixas.

    Thiago Tavares, presidente da Safernet, considera que apesar do equívoco "absurdo" do Ipea, a sociedade não deve menosprezar que um quarto dos brasileiros acha que mulheres merecem ser atacadas por seu modo de vestir.

    "Saímos do inacreditável [65%] para o inaceitável [26%]. A população precisa se conscientizar da necessidade de denunciar esses crimes e seus agressores" diz.

    Para a especialista em pesquisas de opinião Fátima Pacheco Jordão, o erro numérico é secundário diante da repercussão da pesquisa.

    "A reação mostra que a sociedade e, em especial, as mulheres não acham que o problema é individual, mas sim estrutural, o que é passo muito importante para pararmos de culpabilizar as vítimas de estupro", afirma.

    Ativistas do #NãoMereçoSerEstuprada prometem continuar o movimento, que incentiva mulheres e homens a postarem fotos nas redes sociais com a mensagem da campanha.

    "Não tem errata que tire das mulheres o debate que se abriu. Ele continua, com as várias manifestações marcadas pelo país", diz Nana Queiroz, criadora do movimento.

    Ontem à noite, cerca de 50 pessoas se reuniram na av. Paulista no protesto "Todos de Mini", que reuniu pessoas de minissaia em protesto contra o estupro e o machismo.

    "A roupa torna a mulher alvo de violência, seja do estuprador, seja do namorado ou do pai ciumento", disse a produtora cultural Mariana Perin, 31, que esteve no ato.

    Colaborou GABRIELA SÁ PESSOA

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