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    Hugo Di Domenico (1914-2014) - O médico que falava tupi-guarani

    FABRÍCIO LOBEL
    DE SÃO PAULO

    09/04/2014 00h02

    Paraibuna significa rio ruim e de águas escuras em tupi. Taubaté, em uma das versões mais aceitas, é moradia elevada. Já Guaratinguetá, o lugar de muitas garças.

    As palavras indígenas que cercaram sua infância no Vale do Paraíba eram cuidadosamente anotadas e catalogadas pelo médico Hugo di Domenico.

    Em 2008, quando as fichas acumuladas ao longo de décadas chegaram a 50 mil verbetes traduzidos para o português, Di Domenico conseguiu publicar o que chamou de sua obra-prima: o Léxico Tupi-Português.

    "Não é que eu queira que toda criança fale tupi. Mas desejo que os estudantes entendam a influência do tupi na nossa língua", disse ele em uma entrevista, certa vez.

    Ele dizia achar estranho que os brasileiros vivessem em meio a tantas palavras indígenas desconhecendo a sua origem e significado.

    Filho de imigrantes italianos, Di Domenico teve 14 irmãos. Aos 17, ingressou na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, atual UFRJ.

    Assim que se formou, em 1937, mudou-se para Taubaté, onde começou a clinicar.

    Era comum que ficasse até depois do seu expediente no consultório para atender pacientes sem dinheiro.

    Tinha ainda o costume de, com longas conversas, convencer até mesmo o mais teimoso dos pacientes.

    Trabalhou no consultório montado em casa até seu aniversário de 99 anos, quando uma arritmia cardíaca o afastou da medicina. Morreu no domingo, vítima de uma embolia pulmonar. Deixa a viúva, três filhos, cinco netos e um bisneto.

    coluna.obituario@uol.com.br

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