• Cotidiano

    Sunday, 05-May-2024 13:23:05 -03

    Hortência Christina Montgomery (1935-2014) - Levou seu piano pelo mundo

    FABRÍCIO LOBEL
    DE SÃO PAULO

    10/04/2014 01h00

    No final da década de 60, depois de anos tocando em recitais e até mesmo no Theatro Municipal de São Paulo, Hortência Christina conseguiu, enfim, comprar o seu piano de cauda, um modelo da fábrica tcheca Petrof.

    Com 36 anos, ao se casar, percebeu que teria um grande problema pela frente: carregar o seu Petrof ao redor do mundo, para onde quer que o marido se mudasse.

    Isso porque Alistair Montgomery era um engenheiro naval e vistoriava navios em vários países.

    Assim, Hortência e o Petrof viajaram para o Rio de Janeiro, depois para Santos e Porto Alegre. Em muitas dessas mudanças, o piano teve que ser içado para entrar pelas janelas dos apartamentos.

    Em 1976, mudaram-se mais uma vez, agora para a Escócia. Por lá, Hortência deu aulas de piano para os vizinhos, enquanto o marido passava longas temporadas nas plataformas de petróleo.

    Quando a família morou no Peru, o Petrof de cauda foi usado para dar aulas ao embaixador equatoriano e às filhas do embaixador sueco.

    Nas muitas recepções a que foi convidada, Hortência tocava sempre peças de Chopin, Liszt e dos brasileiros Ernesto Nazareth e Villa-Lobos.

    De volta ao Brasil, tocou piano mesmo depois de ter sido diagnosticada com Parkinson e Alzheimer.

    As doenças degenerativas a afastaram aos poucos de seu Petrof. Com o tempo, passou a esquecer as músicas aprendidas na juventude e a perder a agilidade dos dedos sobre o teclado.

    Morreu aos 78, em São Paulo. Deixa o viúvo, dois filhos e duas netas.

    coluna.obituario@uol.com.br

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024