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    Polícia paulista flagra de fábrica a churrascaria furtando água

    FELIPE SOUZA
    EDUARDO GERAQUE
    DE SÃO PAULO

    11/04/2014 03h00

    Em meio à crise no abastecimento, a Polícia Civil indiciou ontem os donos de sete estabelecimentos comerciais sob suspeita de furto de água na Grande São Paulo.

    Alvo de uma operação da Delegacia de Crimes contra Órgãos e Serviços Públicos, os locais foram flagrados usando técnicas diferentes para impedir o registro correto do consumo.

    Entre elas, o uso de um ímã potente, capaz de mover objetos de até 250 kg, que, ao ser colocado próximo a um hidrômetro, trava o ponteiro que mede a vazão da água.

    Imãs como esse foram apreendidos em quatro estabelecimentos visitados.

    Valendo-se deste meio, segundo a polícia, a fábrica de gelo Max Gelo, em Taboão da Serra, registrou um consumo médio mensal de 24 mil litros nos últimos anos.

    Sem esse recurso, técnicos da Sabesp estimam que o estabelecimento teria um consumo mensal bem maior, de cerca de 500 mil litros.

    Com essa estimativa, a empresa pagaria contas de água no valor de R$ 13 mil. Entretanto, um terço delas foi de R$ 67,56 –valor estipulado para meses em que indústrias gastam até 10 mil litros de água em Taboão da Serra.

    O dono da fábrica não foi encontrado. Ele será convocado a depor e deverá ser alvo de processo na Justiça.

    A Sabesp instalou no lugar um hidrômetro "blindado", em tese, a prova do imã.

    A operação da Polícia Civil, apelidada de "Gato Escaldado", também encontrou fraudes nos relógios de cinco pensões, nos bairros Vila Mariana, Vila Monumento e Ipiranga, todas do mesmo dono.

    Em duas das cinco pensões, foram encontrados imãs. Nas outras três, os hidrômetros foram adulterados.

    Rogério Alves dos Reis, 29, o proprietário, confessou, segundo a polícia, ter contratado uma pessoa para alterar os aparelhos. Ele foi detido, indiciado e liberado após pagar fiança.

    O mesmo ocorreu com o dono da churrascaria Boi Gaúcho, na zona leste.

    No local, a polícia encontrou uma ligação direta feita por baixo da terra. O proprietário, Getúlio Pedro Cimarosti, 41, disse que o restaurante fica num galpão alugado e desconhecia o desvio.

    INVESTIGAÇÃO

    O delegado responsável pela operação, Dimas Pinheiro, diz que os "gatos" geralmente são feitos por quem já trabalhou ou ainda é funcionário das distribuidoras.

    "Precisa ter conhecimento técnico para fazer um serviço desse tipo. Com esse argumento, essa pessoa passa confiança a quem está interessado em cometer esse crime."

    A Sabesp não comentou essa afirmação. A companhia disse que repassa à polícia os casos suspeitos, identificados por meio de alteração significativa no padrão de consumo.

    A polícia flagrou neste ano furto de água em outros sete locais, incluindo motel e posto de gasolina. Outros três casos são investigados.

    Em 2013, foram registrados 46 casos desse tipo. No período, 37 pessoas foram detidas sob suspeita de furto.

    RACIONAMENTO

    Os flagrantes ocorreram em meio a uma das maiores crises hídricas da Grande São Paulo. Com os reservatórios praticamente vazios, o governo já cogita adotar o racionamento de água.

    Ontem, a presidente da Sabesp, Dilma Pena, defendeu num discurso inflamado o planejamento da companhia para enfrentar a crise de falta de água nos reservatórios do sistema Cantareira.

    "Quem lê, quem estuda, quem se informa sabe que a Sabesp tem planejamento", afirmou Dilma, incomodada com as afirmações de especialistas de que o governou não se preparou.

    O discurso ocorreu no lançamento das obras de construção do sistema São Lourenço, que também teve a presença do governador Geraldo Alckmin (PSDB).

    Se o cronograma oficial for mantido, a nova transposição de água, ficará pronta em meados de 2017.

    Apesar de o governo e da Sabesp garantirem que as obras começaram ontem, não havia nenhum operário ou material de trabalho no local durante o evento.

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