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    Seca faz surgir mancha verde gigante em lagoa do interior

    LUCAS SAMPAIO
    ENVIADO ESPECIAL A AMERICANA (SP)

    12/04/2014 03h40

    Diante da falta de chuvas e da maior crise hídrica da história de São Paulo, a represa de Salto Grande, em Americana (100 km de SP), ganhou uma enorme mancha verde que afeta o ecossistema local.

    Resultado do represamento do rio Atibaia para gerar energia, a lagoa de 14 km² está coberta por bactérias, cianobactérias, algas verdes, fungos e protozoários.

    A mancha ocupa cerca de 70% do espelho-d'água, atinge meio metro de profundidade, tinge a pele de animais e causa queimaduras em pessoas que entram na lagoa.

    Ponto de lazer da região, a represa atrai lanchas, motos aquáticas e banhistas nos fins de semana. Bichos também ficaram verdes –a Folha viu pelo menos um pato e um cachorro com essa cor.

    "Tem alga que não conseguimos nem detectar o que é", diz Carlos Cesar Zappia, presidente da Escola Barco da Natureza, que cuida da preservação do reservatório.

    "Uma bióloga ficou afastada por dois meses devido à queimadura pelo contato com esse biofilme", afirma.

    Segundo Zappia, o fenômeno costumava ocorrer duas vezes ao ano, em julho e outubro, durava cerca de duas semanas e ocupava um pequenas áreas da represa. Normalmente, a chuva e a circulação de água no reservatório dissipavam o material.

    Mas diante da estiagem e do forte calor dos últimos meses, a mancha não se dissipou e passou a aumentar de tamanho desde outubro. Ela diminui a quantidade de oxigênio na água e, se atingir toda a lagoa, pode causar a morte de peixes.

    Segundo o biólogo, o fenômeno sempre ficava restrito às margens e nunca com a mancha desse tamanho.

    Há duas semanas, parte da mancha passou a ser detectada após a barragem, já no rio Piracicaba, no ponto de captação do departamento de água de Americana.

    "Quando há concentração de poluentes e vazão baixa, a potabilidade e a manutenção da vida aquática correm risco", diz Francisco Lahóz, secretário-executivo do Consórcio PCJ (que reúne prefeituras e empresas da região).

    CANTAREIRA

    O fenômeno está relacionado à crise do sistema Cantareira, que abastece diretamente 8,8 milhões de pessoas na Grande SP e indiretamente 5,5 milhões no interior.

    Os reservatórios são formados pelo represamento dos rios Atibaia e Jaguari, que formam o Piracicaba logo depois de Salto Grande.

    Os rios estão recebendo 3 m³/s de água do Cantareira, mas o Consórcio PCJ afirma que seriam necessários 12 m³/s durante a estiagem.

    A Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental) informou que o longo período de estiagem levou à redução do volume da água e maior concentração de esgoto urbano, que contém uma grande carga de nutrientes, alimenta as algas e propicia sua proliferação.

    A estatal afirma que o recebimento de esgoto sem tratamento por muitas décadas favoreceu o desenvolvimento das algas na represa, evento agravado neste ano pela redução na vazão do rio Atibaia e pela operação do sistema Cantareira, o que degradou a qualidade da água da represa.

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