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    Longe do gueto, funkeiro sobe ao palco para sapatear em São Paulo

    GIBA BERGAMIM JR.
    DE SÃO PAULO

    13/04/2014 01h50

    No clipe de "Ela é gata", um dos sucessos do funk ostentação no Youtube, MC Galo dança no melhor estilo "gangsta", sem muita ginga, ao lado de belas garotas.

    Um ano depois do lançamento do vídeo que soma 3 milhões de visualizações, aquele "tímido" funkeiro virou um dançarino, mais precisamente um sapateador com inspiração nos musicais da Broadway.

    Paulistano da comunidade Arizona, no bairro Cangaíba (zona leste), Raul Santos, nome de batismo do MC, poderia ser chamado de "estranho no ninho" no meio de bailarinos recém-formados, não fosse a rápida adaptação ao grupo e a desenvoltura que alcançou no palco.

    Para isso, MC Galo, 23, ficou sete meses no curso de musicais ministrado por professores da Escola de Atores Wolf Maya. O MC usou o dinheiro ganho com shows durante o ano passado para bancar o curso -a mensalidade costuma girar em torno de R$ 550.

    Zanone Fraissat/Folhapress
    Com boné de aba larga, tênis de marca e corrente de ouro, Raul Santos, o MC Galo, posa no palco
    Com boné de aba larga, tênis de marca e corrente de ouro, Raul Santos, o MC Galo, posa no palco

    A partir de hoje ele estará no espetáculo "Making Musicals 6", espécie de trabalho de conclusão do curso. O musical ficará um mês em cartaz no teatro Nair Belo, no shopping Frei Caneca.

    "Sempre quis aprender mais sobre atuação e dança, porque já quis ser ator. Aprimorei minha voz e estudei muito. Agora é usar o que aprendi para as novas músicas e clipes", disse Galo.

    No período de curso, estudou técnicas de interpretação, canto e sapateado.

    Para quem tinha um jeito mais durão de rapper-funkeiro, o talento no sapateado surpreendeu. Com aplicação nos ensaios, o MC progrediu.

    "Ele é muito dedicado, assíduo nas aulas, além de respeitoso e educado. Com suas qualidades, ficou querido por todos", disse o coordenador pedagógico da escola de atores, Josemir Kowalick.

    Professor de interpretação, Kowalick explica que as aulas acontecem de segunda a sexta-feira e duram quase o dia todo. Quem quer fazer o curso passa por uma espécie de pré-seleção.

    Depois, só a dedicação vai garantir um trabalho de qualidade. Sem nunca ter feito sapateado, o MC se saiu muito bem, dizem seus professores.

    "Muito interessante alguém mais ligado ao rap e ao funk se adaptar bem ao jazz dos musicais da Broadway", afirma Kowalick.

    O "Making Musicals", claro, é inspirado nos shows da Broadway -faz uma espécie de releitura de 22 espetáculos da famosa meca dos musicais de Nova York.

    Galo participa de vários números. "O curso ajudou, deu desenvoltura. Na dança, não tem jeito, a pessoa tem que se entregar, e ele se entregou ", explica Kowalick.

    O figurino ostentação segue fazendo parte do cotidiano do músico, agora também dançarino. Posou para o fotógrafo da Folha com seus indefectíveis boné de aba larga, tênis de marca e corrente grossa de ouro -tríade básica do estilo ostentação.

    O cenário, porém, era um teatro, bem diferente dos palcos a céu aberto onde já cantou nos bairros de periferia.

    "Quero seguir na música e na arte, meu negócio não é só ostentação", disse o funkeiro.

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