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    Santa Casa de São Paulo tem eleição acirrada para escolha de provedor

    CLÁUDIA COLLUCCI
    DE SÃO PAULO

    14/04/2014 03h31

    A Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, maior hospital filantrópico da América Latina, vive a eleição mais acirrada da sua história de mais de quatro séculos.

    A disputa, que ocorre na quarta-feira, é para eleger o provedor (espécie de presidente) da entidade, responsável por 3,5 milhões de atendimentos por ano, com orçamento de R$ 1,3 bilhão.

    De um lado está a chapa encabeçada pelo advogado Kalil Rocha Abdalla, 72, que tenta o terceiro mandato.

    Editoria de Arte/Folhapress

    Do outro, a do médico José Luiz Setúbal, 57, da família fundadora do Itaú, presidente do Hospital Infantil Sabará e também conselheiro da Santa Casa, onde se formou.

    No centro dos debates, um hospital privado, sem fins lucrativos, com dívida de R$ 350 milhões que gera juros de quase R$ 3 milhões por mês.

    Há seis anos, quando Kalil assumiu, a dívida era de R$ 70 milhões, segundo balanços financeiros. Setúbal diz que o hospital é mal gerido e que falta transparência da atual administração, fatores que o teriam impulsionado à disputa.

    Ele cita como exemplo a falta de informações sobre os cerca de 700 contratos de aluguel dos imóveis que a entidade possui na capital. Em 2013, a receita de aluguéis somou R$ 28 milhões.

    Se eleito, Setúbal promete reestruturar a Santa Casa, profissionalizando e modernizando a gestão e dando transparência aos números. Para isso, deverá contar com ajuda de uma consultoria internacional-a McKinsey.

    Ele afirma que a situação financeira é insustentável a longo prazo. "O risco de falência é grande. Os custos ultrapassam as receitas e cresceram em ritmo acelerado desde a posse do atual provedor."

    Kalil rebate as críticas responsabilizando o SUS (Sistema Único de Saúde) pela situação financeira crítica da instituição. "O SUS não atualiza a tabela de procedimentos há dez anos. Um atendimento que eu faço hoje, recebo menos da metade do valor", afirma. Os recursos vindos do SUS representam 40% do atual orçamento.

    Também atribui o endividamento à construção de novos prédios, entre eles a segunda unidade do hospital Santa Isabel, um centro de pesquisa e a nova sede da faculdade de ciências médicas.

    Segundo o advogado, a Santa Casa compensa parte das perdas provocadas pelo SUS com recursos do hospital privado Santa Isabel, que, em 2013, teve R$ 116 milhões de receita bruta.

    Daniel Guimarães/Folhapress
    Prédio principal da Santa Casa de SP; instituição tem eleição mais acirrada da história
    Prédio principal da Santa Casa de SP; instituição tem eleição mais acirrada da história

    Além do hospital central, a Santa Casa administra, por meio de uma OSS (Organização Social de Saúde), outras 39 unidades, entre hospitais, prontos-socorros, unidades básicas de saúde e centros médicos públicos em parceria com o governo.

    Setúbal garante que é possível obter resultados positivos com os atuais recursos.

    Entre os seus apoiadores está o empresário Jorge Gerdau, presidente do Conselho de Administração da Gerdau e da Câmara de Políticas de Gestão, Desempenho e Competitividade do governo federal que, na década passada, ajudou a Santa Casa de Porto Alegre a se transformar em um modelo de gestão.

    Já Kalil e seus apoiadores (grande parte do corpo clínico o apoia) afirmam que Setúbal pretende tornar a Santa Casa lucrativa, ampliando atendimentos privados e diminuindo pacientes do SUS.

    Setúbal não descarta a possibilidade. "Se eu tiver que diminuir o SUS para não deixar morrer a Santa Casa, será melhor. Não é o que eu quero fazer. Todo o meu planejamento é para melhorar os resultados e aumentar o atendimento, seja SUS seja privado."

    Ambos estão certos da vitória: falam que têm o apoio da maioria dos quase 500 irmãos (beneméritos). Entre eles, há desde políticos como Paulo Maluf até artistas, como a atriz Beatriz Segall.

    Na eleição, esses sócios votam a escolha de uma mesa administrativa composta por 50 membros (provedor, vice provedor e 48 mesários), os mesmos que compõem as chapas concorrentes. O voto é secreto e a posse acontece no mesmo dia da eleição.

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