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    Brasil carece de dados sobre violência sexual e doméstica, diz diretor do Ipea

    SOFIA FERNANDES
    DE BRASÍLIA

    15/04/2014 13h30

    O diretor do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) Daniel Cerqueira afirmou nesta terça-feira (15) que o instituto não perde credibilidade com o erro na pesquisa sobre machismo, e comparou o equívoco a um acidente aéreo.

    "Até aviões caem, e um acidente desse ajuda a tornar o transporte aéreo mais seguro", disse. Cerqueira afirmou ainda que o equívoco com os números "não modificou em nada o resultado" e a relevância dos dados.

    Segundo o diretor, o Brasil carece de estudos como o elaborado pelo Ipea, que mostram o nível elevado de tolerância do brasileiro à violência doméstica e sexual.

    Ainda segundo ele, faltam pesquisas domiciliares com esse foco, o que é difícil de ser feito, já que a maior parte dos casos de violência sexual acontece dentro de casa.

    Pesquisa do Ipea divulgada no fim de março revelou inicialmente que 65% dos brasileiros concordam com a frase "mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas". Dias depois, o instituto corrigiu o número para 26%.

    Outro dado da pesquisa mostra que 58,5% dos brasileiros concordam com a seguinte afirmação: "se as mulheres soubessem como se comportar, haveria menos estupros".

    "Consideramos a violência de gênero no Brasil um reflexo direto da ideologia patriarcal, que define as estruturas de poder. Ideologia patriarcal é defendida na cultura do machismo, a mulher como objeto de desejo e propriedade. Essa noção passa às vezes implícita pela sociedade", afirmou.

    DADOS

    Segundo Cerqueira, o pesquisador encarregado da pesquisa é "um dos mais meticulosos" da instituição. "Foi um pequeno, grande erro, como o Marcelo [presidente do Ipea] falou."

    Ele compareceu à audiência pública nas comissões de Direitos Humanos e Assuntos Sociais do Senado no lugar do presidente do Ipea, Marcelo Neri.

    Cerqueira criticou a falta de organização dos dados sobre violência sexual no país, e defendeu a integração das informações do IML (Instituto Médico Legal), da polícia e do Ministério da Saúde - esse último detém a única base de dados sobre estupro no país.

    "Como fazer política pública no Brasil e saber se as políticas foram eficazes ou não?", questiona Cerqueira.

    A jornalista Nana Queiroz, idealizadora da campanha "Eu não mereço ser estuprada" - que ganhou larga repercussão no país e o apoio até da presidente Dilma Rousseff - também criticou a falta de dados no país e de conhecimento sobre o que é violência sexual.

    "O brasileiro não sabe o que é estupro, nem como lidar emocionalmente com isso", afirmou a jornalista, que recebeu 3 mil mensagens de pessoas que já passaram por situações de violência sexual desde que iniciou a campanha.

    O grupo formado pela jornalista está preparando um documento para entregar a Dilma, sugerindo frentes para combater o machismo no país - pela educação, na polícia, na publicidade e com a realização de mais pesquisas sobre o assunto.

    Segundo ela, está sendo difícil escrever o documento pela falta de informações nacionais sobre estupro no país.

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