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    Governo e policiais militares anunciam fim de greve na Bahia

    JOÃO PEDRO PITOMBO
    DE SALVADOR
    ANDRÉ UZÊDA
    ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR

    17/04/2014 14h50

    O governo da Bahia e associações que representam policiais militares do Estado anunciaram no começo da tarde desta quinta-feira (17) que chegaram a um acordo para encerrar a greve da categoria.

    A paralisação da PM baiana havia começado na noite de terça-feira (15), e foi acompanhada por uma explosão da violência na Grande Salvador.

    Houve saques a estabelecimentos comerciais e ao menos 52 homicídios desde o início da paralisação –no mesmo período da semana passada foram oito casos.

    O acordo é resultado de uma reunião realizada na manhã desta quinta-feira entre representantes do governo Jaques Wagner (PT), da cúpula da PM e das seis associações de PMs mobilizadas na greve. O encontro teve participação do arcebispo primaz do Brasil, dom Murilo Krieger.

    "Foi uma decisão em que pensamos muito mais na sociedade, que é quem paga nossos salários", afirmou o soldado Marco Prisco, vereador em Salvador pelo PSDB e um dos líderes do movimento.

    Cerca de mil PMs se reuniram no início da tarde num parque aquático desativado de Salvador e aprovaram o acordo fechado pela manhã. Houve comemoração e gritos de "A PM voltou".

    A categoria reivindicava aumentos em gratificações, garantias de progressão de carreira e sanções mais brandas no novo código de ética da corporação, entre outros pontos.

    O governo Wagner aceitou iniciar uma nova discussão sobre o código de ética da corporação. Também concedeu reajustes em gratificações para PMs em funções administrativas, operacionais e de transporte (motoristas).

    Os PMs dizem que houve garantia de não retaliação a participantes do movimento, o segundo da categoria no Estado desde 2012.

    A gestão Wagner já havia aceitado alguns pedidos antes da greve, como a separação do Corpo de Bombeiros da PM e a concessão de aposentadoria aos 25 anos de serviço para PMs mulheres.

    GOVERNO

    "Prevaleceu o bom senso na decisão do fim da greve. Mas não temos o que comemorar pelos episódios violentos que foram registrados na Bahia nestes dois dias de greve", afirmou o governador.

    Wagner disse ainda esperar que "a PM entenda que o direto à reivindicação não pode nunca ser superior ao direito da população".

    O petista também cobrou do STF (Supremo Tribunal Federal) uma "posição mais clara sobre o direito de greve" de forças armadas. "Pois existe sempre um risco de prevalecer a desordem e colocar a população em risco."

    Decisões da Justiça Federal e do Estado, expedidas entre quarta-feira e quinta-feira, já determinavam o fim da paralisação, sob pena de multa às associações de classe.

    A pedido do governo da Bahia, o governo federal enviou homens do Exército e da Força Nacional para reforçar o policiamento no Estado. Segundo Wagner, a Força Nacional permanecerá no Estado por tempo indeterminado até a normalização do policiamento -na assembleia dos grevistas, falava-se em retomada dos trabalhos a partir do começo da noite desta quinta-feira.

    O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que foi à capital baiana para acompanhar os trabalhos, disse que fazia "um gesto de solidariedade ao governo da Bahia pela ameaça de desordem que tentaram instalar" no Estado. "O regime de estado de Direito não pode ser ameaçado por aquelas pessoas que têm o dever de cumprir a Constituição e juraram cumprir a Constituição."

    O comandante-geral da PM, coronel Alfredo Castro, afirmou que a corporação deverá ter agora a "frieza necessária para reverter esse quadro de violência".

    GREVISTAS

    O soldado Ivan Leite, do comando da greve, disse que a paralisação teve caráter inédito por unir, segundo ele, praças e oficiais em assembleias pela primeira vez.

    "Já batemos muito e agora é hora de apanhar um pouco e nos abrirmos para a sociedade. Hoje já temos oficiais e praças juntos. Amanhã teremos polícia e sociedade lado a lado", afirmou.

    Apesar do clima de festa após a acordo, alguns PMs ainda criticavam o acerto. Pedindo anonimato, um oficial disse que as concessões do governo avançaram "muito pouco em relação ao proposto antes da greve".

    Outros PMs comemoravam e diziam que a categoria mostrou força ao governo. "Eles não podem chegar com pacto pronto. Tem que negociar", disse um subtenente da PM.

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