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    Rio de Janeiro

    PM investiga participação de policiais da UPP na morte de dançarino

    DIANA BRITO
    DO RIO

    23/04/2014 18h55

    A Polícia Militar do Rio investiga a participação de oito policiais militares da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) do morro Pavão-Pavãozinho, em Copacabana, zona sul do Rio, na morte do dançarino Douglas Rafael da Silva Pereira, 26, conhecido como DG, do programa "Esquenta", da TV Globo.

    O corpo do jovem foi encontrado nos fundos de uma creche da favela horas após um confronto entre criminosos e PMs. De acordo com o comandante das UPPs, coronel Frederico Caldas, foi aberta sindicância para apurar se houve participação dos policiais no crime.

    Mãe do bailarino, Maria de Fátima da Silva, 56, disse que os oito policiais são investigados ainda pela Polícia Civil sob suspeita de terem torturado seu filho antes de matá-lo. Segundo ela, a informação lhe foi transmitida pelo delegado Gilberto da Cruz Ribeiro, responsável pelo caso.

    Maria de Fátima passou quase três horas ontem prestando depoimento na delegacia. Ao sair, disse ter sido informada pelo delegado que seu filho foi atingido por um tiro nas costas, que teria atravessado seu corpo e saído pelo ombro. Essa seria a causa de sua morte.

    Reprodução/Facebook
    Dançarino Douglas Rafael da Silva Pereira, conhecido como DG, ao lado da cantora Anitta; morte do rapaz causou protestos no Rio
    Dançarino Douglas Rafael da Silva Pereira, conhecido como DG; morte provocou protestos no Rio

    Em laudo, o IML afirma que o jovem morreu de "hemorragia interna decorrente de laceração pulmonar", causada por "ferimento transfixante do tórax" como consequência de "ação pérfuro-contundente". Duas cápsulas de balas foram encontradas por peritos ao lado do corpo.

    A Polícia Civil afirmou, no entanto, ainda não ser possível afirmar que DG foi atingido por arma de fogo.

    "Tenho certeza absoluta que o meu filho foi torturado. Ele tinha um corte na cabeça e no nariz. Estava muito machucado. Tinha marcas de botas nas costas. E o perito [do Instituto Médico Legal] disse que ele foi atingido por um tiro no tórax", lamentou emocionada a mãe.

    "Não entendi porque ele e todos os documentos dele, passaporte e o cartão do plano de saúde da emissora, estavam molhados se na terça-feira não chovia. Por que a gente só foi tomar ciência da morte 18 horas depois, se ele estava com identificação", disse a mãe.

    O governador Luiz Fernando Pezão determinou empenho total à Polícia Civil. Ele afirmou em nota que "aguarda o resultado das investigações para tomar as medidas cabíveis".

    Douglas Pereira morava com a mãe na rua Barata Ribeiro, em Copacabana. Ele deixou um filha de quatro anos. Segundo a mãe do jovem, ele costumava levar a namorada -remadora do Vasco- no alto no morro, onde ela mora. Ele ainda encontrava amigos do grupo de dança "Bonde da Madrugada" ali.

    "A filha dele também mora no Pavão. Todo mundo conhece ele. Não sei como isso foi acontecer! Mas meu filho não vai virar um Amarildo", disse a mãe, em referência ao ajudante de pedreiro desaparecido desde junho do ano passado na Rocinha, zona sul. PMs são acusados de torturar até a morte o morador e depois esconder o corpo dele, que até hoje não foi encontrado.

    "Tenho informações de que moradores fizeram imagens de PMs com luvas cirúrgicas desfazendo a área do crime, talvez por isso o meu filho estivesse molhado. Peço que da mesma forma que eles tiveram coragem de impedir que o corpo do meu filho fosse escondido, eles divulguem essas imagens", afirmou.

    Editoria de Arte/Folhapress
    Protestos em 10 cidades
    Protestos em 10 cidades

    CRIME

    De acordo com a coordenação das UPPs, PMs da unidade pacificadora local foram checar uma denúncia de que traficantes armados estariam circulando num beco da favela, por volta das 22h de segunda (21). Ao chegar na viela, eles foram recebidos a tiros. Houve confronto, mas ninguém teria ficado ferido e não houve preso ou apreensão.

    Por volta das 9h de terça (22), a PM diz que foi fazer perícia do tiroteio junto com a Polícia Civil e descobriram o corpo do dançarino nos fundos da creche Paulo de Tarso, mas somente às 18h a família da vítima foi avisada do crime. A PM nega ter encostado no corpo.

    Na ocasião, PMs isolaram a área e cercaram a creche para aguardar a chegada da diretora da instituição e iniciar a perícia. No momento do crime, havia uma funcionária dentro da creche. Ela deve prestar depoimento à polícia até o final de semana.

    A ex-mulher do dançarino, que mora no morro, teria sido barrada na entrada da instituição. Revoltados, moradores iniciaram protestos violentos pelas ruas de Copacabana. Eles fizeram barricadas com pedras e paus e atearam fogo em objetos e num carro. Logo depois, ela conseguiu reconhecer o corpo.

    No tumulto, houve novo confronto com PMs e outro rapaz identificado como Edilson da Silva dos Santos, 27, que sofria de uma doença mental, levou um tiro na cabeça e morreu antes de chegar no hospital.

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