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    José Santo Souza (1919-2014) - Poeta espiritualista e universal

    ALAN SANTIAGO
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    26/04/2014 00h02

    Nada levava a crer que José Santo Souza, 95, se tornaria reconhecido poeta de Sergipe. Filho único de mãe solteira, negra e analfabeta, o garoto estudou só até a quarta série e logo cedo teve de trabalhar numa farmácia.

    Precisou, então, aprender sozinho. Guardava os poemas que encontrava nas revistas. Com o dinheiro das injeções, comprou uma gramática. Lia tudo o que o mundo de Riachuelo, onde nasceu, a 23 km de Aracaju, lhe permitia.

    Logo começou a escrever os primeiros versos. Mas a estreia na literatura veio mesmo aos 34 anos, com "Cidade Subterrânea", numa edição custeada por amigos.

    "Ode Órfica" (1955) atraiu de vez a atenção dos críticos. Passeou ainda pela poesia social com "Pássaro de Pedra e Sono" (1964), recolhido pela censura, segundo a família.

    Ao todo, foram 19 livros publicados. Sempre de poesia, embora tenha escrito crônicas e novelas para o rádio.

    De acordo com a crítica, atingiu linguagem universal. Sua obra retoma elementos clássicos da literatura grega, propõe inovações na metrificação dos poemas e traz questionamentos espirituais cheios de símbolos.

    Essa espiritualidade estava presente também na vida: era esotérico, lia horóscopo, participava da Ordem Rosacruz e tinha os números 7, 13 e 10 como especiais.

    Parou de escrever há quase cinco anos, com a morte da mulher, Maria Ana, para quem compôs uma valsa na juventude. Foram casados durante quase 70 anos e tiveram oito filhos, 27 netos e 18 bisnetos. Nunca viveu da literatura e morreu de câncer no pulmão no último dia 18.

    coluna.obituario@uol.com.br

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