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    Rio de Janeiro

    Marcha pela descriminalização da maconha reúne mais de três mil no Rio

    LUCAS VETTORAZZO
    DO RIO

    10/05/2014 17h10

    A Marcha da Maconha, realizada neste sábado (10), na orla de Ipanema, na zona sul do Rio, reuniu 3.500 pessoas, segundo estimativas da Polícia Militar.

    Ativistas pela legalização da droga e também mães que defendem o uso da erva para fins medicinais iniciaram a marcha que começou às 16h20, considerada a hora mundial da maconha.

    Os ativistas defendem a legalização como forma de reduzir o poder do tráfico e também para que haja uma política de redução de danos para o usuário.

    Os ativistas dizem ainda que a política de repressão ao tráfico no varejo serve mais para vitimar a população negra e pobre das periferias onde a droga é distribuída.

    À despeito da simpatia de parte da sociedade em relação à liberação da maconha e também do movimento mundial nessa direção, com o exemplo de Uruguai, que estatizou o plantio e a distribuição, e dos Estados Unidos, onde 20 estados permitem o uso medicinal e pelo menos dois para o uso recreativo, os ativistas não creem na legalização no curto prazo da droga no Brasil.

    "Enquanto houver a pressão da bancada fundamentalista religiosa no Congresso nacional, não vai haver nenhum movimento nesse sentido no país", disse o vereador Renato Cinco (PSOL).

    "Eu não vejo nenhum contra em relação à legalização. Apenas prós. Em Portugal e na Holanda houve redução dos usuários por conta de as pessoas passarem a se sentir mais à vontade para buscar ajuda."

    A comerciante Júlia Merquior, 48, trouxe sua filha, Eliana, 7, que sofre de epilepsia. Ela pretende entrar na justiça do Rio para pedir a importação do óleo de cannabis, recomendado para o uso medicinal.

    "Eu acho que se é para ajudar a milha filha a ter uma vida melhor, porque não tentar", disse ela.

    Ela disse não ver nos governos em geral qualquer disposição de abrir um diálogo nesse sentido. "As informações que eu tenho são as que pego na internet e com as outras mães."

    Merquior se disse favorável ainda à liberação para o uso além do medicinal, "como quase todas as substâncias legalizadas e que fazem mal".

    Lucas Vetorazzo/Folhapress
    Marcha pela legalização do uso da maconha reúne 3.500 pessoas no Rio de Janeiro
    Marcha pela legalização do uso da maconha reúne 3.500 pessoas no Rio de Janeiro

    O deputado estadual Carlos Minc (PT) afirmou que já participou da marcha como ministro do Meio Ambiente, como secretário e deputado.

    Ele lembrou que está para avaliação do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, uma lei que prevê a discriminalização do usuário da droga no país.

    "Hoje o uso está despenalizado, ou seja, não dá cadeia, mas o que vemos é que a Polícia Militar pega quatro jovens fumando e imputa associação para o tráfico, já que a lei não estipula uma quantidade específica. Aí, se forem garotos brancos e de classe média, eles são liberados. O pobre e preto da periferia vai para a cadeia", disse o deputado.

    A marcha virou também um grande local para o consumo da droga em Ipanema, bairro conhecido por ter trechos de suas areias frequentados por usuários. Várias pessoas enrolavam cigarros e consumiam a droga durante a marcha.

    Diferentemente da edição ocorrida em 2012, quando a PM reprimiu a manifestação com bombas e spray de pimenta após um tumulto, a polícia e a Guarda Municipal apenas acompanham de longe a marcha.

    Até a publicação desta reportagem nenhum tumulto havia sido registrado.

    Conhecido como advogado da Marcha da Maconha, André Barros, questiona principalmente a política de repressão à distribuição no varejo da droga.

    "A guerra às drogas é uma farsa no Brasil. São negros e pobres que convivem com a polícia, formada também por negros e pobres, que sofrem com essa guerra. Sabemos que a droga consumida no Brasil vem prensada de maneira industrial do Paraguai. São toneladas que geram milhões, mas você não vê grandes barões da droga sendo presos, apenas tiro diariamente nas favelas", afirmou.

    O cinegrafista Marcus Vinícius Freitas, 40, se disse usuário há 20 anos e carregava um cartaz com a pergunta: "Posso plantar?".

    Ele diz que a maconha prensada que vem do Paraguai é de baixa qualidade, o que a torna inclusive potencialmente mais perigosa por não se saber que tipos de químicas são usadas no processo industrial.

    "A gente tem direito de plantar para o próprio consumo. O discurso de que o usuário alimenta o tráfico é burro. Eu quero usar. Compro onde?".

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