• Cotidiano

    Monday, 29-Apr-2024 21:12:23 -03

    Edgar Jotz (1929-2014) - Padre, abrigou fugitivos políticos

    FABRÍCIO LOBEL
    DE SÃO PAULO

    21/05/2014 00h00

    Num certo dia de outubro de 1971, o vigário Edgar Jotz, da igreja Santa Cecília, em Porto Alegre, recebeu na porta de sua paróquia um jovem católico que se apresentou como Renato. O rapaz pedia abrigo a alguns estudantes com "problemas políticos".

    De pele muito clara, olhos azuis protegidos por óculos de aros grandes, o padre tinha os cabelos penteados para trás. Ele sabia, naqueles anos de repressão da ditadura militar, qual o tipo de problema que os estudantes deveriam estar enfrentando.

    O religioso então lhes ofereceu roupas, refeição e um local para dormir.

    Dias depois, Edgar estava preso no Dops (Departamento de Ordem Política e Social), acusado de facilitar a saída de procurados políticos do Brasil pela fronteira com o Uruguai e a Argentina.

    As cenas estão descritas por Renato, ou melhor, Frei Betto, no livro "Batismo de Sangue". Ele disse à Folha que Edgar nunca teve medo de ser solidário aos perseguidos pela ditadura.

    Ordenado padre desde 1956, Edgar nasceu no interior do Rio Grande do Sul e teve uma vida eclesiástica sempre próxima aos mais pobres de Porto Alegre.

    Trabalhou para a construção de creches, uma delas na Ilha das Flores, famoso lixão às margens do rio Guaíba. Tinha apreço também por causas ambientais.

    Morreu aos 84 anos, de um câncer contra o qual lutava havia dez anos e que se espalhou por vários órgãos.

    Uma missa em sua homenagem será celebrada nesta sexta-feira (23), às 18h, na igreja Santa Cecília, onde foi pároco por mais de 50 anos.

    coluna.obituario@uol.com.br

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024