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    Aliciamento de imigrantes ilegais começa em rodoviária no Peru

    LUCAS FERRAZ
    AVENER PRADO
    ENVIADOS ESPECIAIS A PUERTO MALDONADO (PERU)

    27/05/2014 02h00

    O aliciamento dos imigrantes em Puerto Maldonado, no Peru, começa na rodoviária, assim que chegam os ônibus de Cusco, ponto de passagem de estrangeiros em rota para o Brasil.

    Os imigrantes negros são rapidamente atraídos pelos "coiotes", que atuam em conjunto com taxistas.

    "É rápido. Eles nos colocam nos táxis e nos levam para as 'casitas'", diz o haitiano Julintz Jean Zidor, 24, referindo-se ao hotéis usados pela rede de "coiotes" muitas vezes para trancafiar os imigrantes.
    Zidor esteve hospedado por uma noite em um desses lugares, antes de sua chegada ao Brasil, pelo Acre.

    A Folha também se hospedou em um dos hotéis na fronteira. Identificando-se como estudantes que voltavam de Cusco, os repórteres passaram um noite na Hospedaria Monterrico e flagraram um grupo de haitianos recém-chegados mantidos em cárcere privado.

    A diária, por pessoa, custou 10 soles (moeda peruana), cerca de R$ 9.

    O coiote responsável pelo grupo era um haitiano, que se apresentou como "Tico" e tentou se passar por peruano. Ele repreendia os imigrantes que tentavam sair dos quartos e circular por um pátio interno da hospedaria.

    TRANCAS

    Impedidos de sair às ruas, os haitianos foram alimentados com sanduíches nos quartos, cujas portas têm trancas do lado de fora (é impossível fechá-las por dentro).

    No quarto utilizado pela reportagem havia uma cama de casal bem velha, coberta por um mosquiteiro, e um pequeno banheiro contíguo, imprestável pela sujeira e pelo odor. Na hospedaria, paga-se até pelo papel higiênico.

    Um dia depois de dormir na Monterrico, a reportagem flagrou um novo grupo de haitianos chegando ao local.

    Indagada sobre a situação dos imigrantes, a responsável pela hospedaria, Carina Quispe, calou-se e ameaçou agredir os repórteres com pedras.

    INVISÍVEIS

    Na cidade da Amazônia peruana, os imigrantes de passagem para o Brasil são quase seres invisíveis. Poucos são vistos pela rua.

    A exceção é na agência bancária do centro, em frente ao Mercado Modelo, quando pela manhã alguns deles se reúnem para retirar remessas de dinheiro que os familiares enviam.
    Quase sempre, são valores enviados para completar o pagamento da travessia até a fronteira brasileira.

    Há situações em que, mesmo pagando pela travessia, os imigrantes são deixados na estrada pelos "coiotes".

    Foi isso o que aconteceu com o dominicano Melvin de Jesus Javier, 29.

    "Paguei US$ 150 [R$ 333] de Puerto Maldonado até a fronteira, mas mesmo assim me deixaram no meio do caminho, sem explicação", disse.

    "Tinha um dinheiro no sapato e voltei para a cidade. Esperei dias até um cunhado que mora nos EUA me mandar mais dinheiro para terminar a viagem.

    Na fronteira, a reportagem encontrou diversos imigrantes recém-chegados que tinham sido completamente saqueados pelos "coiotes" e por policias peruanos.

    "Fui roubado e enfrentei tantos problemas que a melhor coisa era retornar para o meu país", lamentava-se o haitiano Zidor, que chegava ao Brasil para se juntar a um amigo já está estabelecido em Santa Catarina.

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