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    No cinema pela 1ª vez, refugiada se surpreende com telona e óculos 3D

    ADRIANA FARIAS
    DE SÃO PAULO

    05/06/2014 02h00

    Mambue Rosi, pela primeira vez em seus 40 anos, vê uma "tela desse tamanhão". Refugiada de Angola por questões políticas, ela desconfia dos "óculos esquisitos" da sessão 3D do Cine Marabá, no centro de São Paulo.

    "Foi emocionante. Meus filhos não tiraram os olhos", diz. "As condições no meu país não permitiam que eu saísse para coisas desse tipo."

    Longe por um momento da realidade do refúgio, 70 famílias como a de Mambue, vindas do Congo, da Síria, de Angola e do Irã, tiveram ontem (4/6) uma manhã de diversão no cinema. Para muitas, foi a primeira experiência do tipo.

    Os irmãos sírios Riad Altinawi, 12, e Yara Altinawi, 9, olhavam curiosos de cima a baixo o cartaz do filme que estavam prestes a ver: "Malévola", inspirado na história de "A Bela Adormecida" e protagonizado por Angelina Jolie, enviada especial da ONU para refugiados.

    Na entrada da sala, o iraniano Yaslan, 8, se junta à dupla e fica boquiaberto olhando os chifres pontiagudos da personagem. Mesmo falando línguas diferentes (árabe e persa), os pequenos se entendiam bem interagindo com gestos.

    A ação, promovida pela ONG Eu Conheço Meus Direitos (IKMR, na sigla em inglês), foi financiada por doações.

    "O mundo precisa de crianças que retornaram à vida. Então brincar e ter acesso a cultura são emergenciais, não só educação, trabalho e saúde", diz Vivianne Reis, fundadora da IKMR.

    "Foi uma oportunidade de sair da rotina [da condição de refugiado], esvaziar a mente", afirma o engenheiro sírio Talal Antinawi, 40. "O filme fala em amor verdadeiro, saí com o coração aberto", diz uma congolesa que não quis revelar o nome.

    Com a ajuda de voluntários, a ONG trabalha com crianças refugiadas e já levou centenas de famílias a parque de diversões, promoveu festas infantis e gincanas em diversas capitais do país.

    "Atividades como essa proporcionam a construção de novas memórias para famílias que deixaram tudo para trás e recomeçaram a vida do zero", diz Reis.

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