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    A cada dois dias, três são mortos em briga de família em SP

    ROGÉRIO PAGNAN
    REYNALDO TUROLLO JR.
    DE SÃO PAULO

    13/06/2014 02h00

    A cada dois dias, ao menos três pessoas são assassinadas no Estado de São Paulo em razão de brigas de casais ou de conflitos entre membros da própria família.

    A constatação parte de um estudo do governo sobre as vítimas de homicídios dolosos (com intenção) entre janeiro e abril deste ano.

    O Estado fez uma radiografia do contexto e da motivação desses crimes e identificou que pelo menos 12,5% do total de 1.606 vítimas nesse período tinham sido assassinados em razão de conflitos entre familiares ou
    casais.

    Esse número pode ser ainda maior, já que esse levantamento é baseado em boletins de ocorrência e, em 28% do total de vítimas de homicídios dolosos, não houve uma "classificação prévia" -podendo haver novos
    casos depois de investigação.

    Entre os crimes atribuídos pela polícia a membros da própria família estão casos famosos como os de Suzane Richthofen (2002), Gil Rugai (2004), do casal Nardoni (2008) e do garoto Marcelo Pesseghini (2013) -acusado de matar pai, mãe, avó e tia-avó e, em seguida, se matar.

    Neste ano, um dos crimes de repercussão foi da médica Elaine Moreira Munhoz -que matou a tiros seu próprio filho e a namorada dele na Vila Leopoldina (zona oeste).

    Editoria de Arte/Folhapress

    AUTORIDADE PATERNA

    O psicólogo e professor da USP Sérgio Kodato diz que há uma série de fatores que influenciam nesse quadro -que vão de crise econômica a desorganização familiar.
    Ele atribui esse problema das famílias, em parte, à ausência da figura da autoridade paterna que impunha respeito e disciplina aos filhos.

    "É a mesma coisa que ocorre no Brasil e na escola que é a falta da figura da autoridade, desrespeito às regras. Então, nesse clima de caos, a tendência é isso afetar uma parte das famílias", disse.

    O especialista em segurança pública Luís Sapori diz ver esse problema "como crônico e cultural do país". Para ele, é uma "anomia moral".

    "Os indivíduos não estão respeitando as regras de Estado, de convivência civilizada, e eles passam a usar da força física para prevalecer seus interesses", disse Sapori.

    Apesar do número representativo e da repercussão social de crimes ligados a conflitos familiares, a radiografia dos homicídios dolosos no Estado mostra que outros fatores são predominantes.

    Por exemplo, há indícios de execução em 17,7% das vítimas -quando há suspeita de ação planejada de grupos criminosos. Outros 5,6% foram assassinados em razão do envolvimento com drogas, de acordo com a
    polícia.

    O total de casos de homicídios dolosos no Estado -para cada caso pode haver mais de uma vítima- vem caindo desde a última década.

    A taxa por cem mil habitantes, que já foi de 35,27 em 1999, estava em 10,50 em 2013 -acima de 10, ela é considerada epidêmica pela OMS (Organização Mundial da Saúde).

    Por outro lado, São Paulo teve alta de crimes contra patrimônio (como roubos e furtos) nos últimos 11 meses -em abril, foi de 29,7% em relação ao mesmo mês de 2013.

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