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    Crise da água

    Com medo da água do 'volume morto', paulistano troca torneira por galão

    ARTUR RODRIGUES
    EDUARDO GERAQUE
    DE SÃO PAULO

    15/06/2014 02h30

    Moradora da Vila Guilherme, na zona norte de São Paulo, a artesã Magda da Silva, 63, aposentou o filtro de barro que usava havia mais de 40 anos. "Tem aquele 'volume morto', né? Aquela água que fica no fundo da represa, com cheiro de fossa", diz.

    "Antes, lavando o quintal, eu até bebia água da torneira. Agora, nem para o meu cachorro eu dou", diz ela, que gastou R$ 400 em um purificador de água superpotente.

    Um mês após o governo Geraldo Alckmin (PSDB) anunciar o uso do chamado 'volume morto' do sistema Cantareira para conter o risco de racionamento, é comum a desconfiança sobre a água que sai da torneira –apesar de a Sabesp garantir a qualidade.

    O 'volume morto' é formado pela água que fica no nível mais profundo dos reservatórios. Por estar abaixo da tubulação que capta o líquido, ela precisa ser bombeada para a superfície.

    Rogério Cassimiro/Folhapress
    Vitor Hugo Pereira, 53, mostra água que sai da torneira de sua casa, na Vila Guilherme (zona norte de SP)
    Vitor Hugo Pereira, 53, mostra água que sai da torneira de sua casa, na Vila Guilherme (zona norte de SP)

    O termo "morto" contribui para a má impressão. Mas a maioria das queixas é ao cheiro de cloro e à cor esbranquiçada da água, que começaram antes do uso da reserva.

    Na casa do professor Vitor Hugo Pereira, 53, na Vila Guilherme, a água chega branca feito leite. "Começamos a cozinhar com água mineral porque a da torneira dava gosto na comida e azia, chegaram até a vomitar", diz.

    A Sabesp afirma que a coloração se deve a um fenômeno relacionado ao cloro.

    A explicação não convence o comerciante Ademir Bueno, 54. "Estão usando água mineral para tudo. A da Sabesp, só para lavar roupa", conta, mostrando um copo de água marrom recém-tirada da sua torneira.

    Na Brasilândia (zona norte), o telefone dos depósitos de água também tem tocado mais. "Tem mais gente comprando galões pela primeira vez", diz Juscelino Santos, 32.

    No seu estabelecimento, o galão de 20 litros custa R$ 25 na primeira compra e R$ 9 se o cliente já tem o vasilhame.

    O novo hábito afeta o bolso de gente como Ângela da Silva, 44, que trabalha vendendo Yakult em um carrinho no bairro. Para comprar dois galões por semana, ela acaba gastando R$ 70 dos R$ 900 que ganha todo mês.

    Alérgica a cloro, a aposentada Eliana Sabó, 64, moradora da Consolação, reclama. "Atacou o meu estômago. Acho que estão aumentando os bactericidas."

    A dona de casa Lucicleide Santos, 28, da Freguesia do Ó (zona norte), proibiu o filho de beber água na torneira.

    "Ele teve diarreia, ânsia de vômito. Depois que começamos a comprar água, parou."

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