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    Em greve, professores acampam na Câmara de Goiânia

    CRISTINA CAMARGO
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    26/06/2014 13h55

    Em greve desde o dia 26 de maio, um grupo de cerca de 300 professores e funcionários municipais da educação está acampado há 17 dias no plenário da Câmara Municipal de Goiânia.

    Em esquema de revezamento, eles passam o dia e a noite no local e dormem em colchões espalhados pelo espaço destinado às sessões legislativas.

    Prometem só sair quando a prefeitura abrir negociações em torno da pauta da categoria, que inclui incorporação de gratificações, reforma de escolas e manutenção de benefícios no plano de carreiras.

    Com o apoio de estudantes e militantes de movimentos sociais, os grevistas levaram a direção da Câmara a suspender por tempo indeterminado o pedido de reintegração de posse que já havia sido aprovado pela Justiça.

    Os invasores prometeram resistir à ação da polícia na terça-feira (24) e o presidente da Câmara, Clécio Alves (PMDB), preferiu evitar a possibilidade de confronto.

    Segundo o presidente, além dos servidores da educação há policiais civis, suplentes de vereadores e "vândalos" acampados no plenário.

    Apesar da invasão, os 33 vereadores e os funcionários continuam trabalhando normalmente.

    Divulgação
    Servidores em greve lavam roupas em fonte na Câmara; grupo está acampado no local
    Servidores em greve lavam roupas em fonte na Câmara; grupo está acampado no local

    As sessões legislativas são realizadas num auditório localizado no prédio da Câmara. Nos primeiros dias do acampamento, o fornecimento de água e energia elétrica foi cortado para forçar a desocupação, mas depois voltou ao normal. No período de corte, os sindicalistas levaram uma caixa d´água e um gerador de energia para o plenário.

    "Não há diálogo nenhum e não podemos permanecer nessa situação de insegurança", diz Antônio Gonçalves, diretor do sindicato dos servidores da educação, sobre a negociação com a prefeitura.

    Segundo ele, o acampamento se formou de forma espontânea após a rejeição pelos vereadores de um pedido de investigação contra o prefeito Paulo Garcia (PT).

    O sindicato defende a apuração sobre o uso dos recursos da previdência municipal, mas agora aceita deixar o plenário caso haja negociação da pauta de reivindicações e um plano de melhorias de médio ou longo prazo.

    Durante o dia, os acampados promovem debates, oficinas, atividades culturais e atos simbólicos como a lavagem de roupa suja feita nesta quinta-feira (26) numa fonte externa da Câmara.

    Com sabão em pó e bacias, eles aproveitaram o ato para discutir problemas sociais da cidade. Depois, penduraram as roupas lavadas num varal.

    Alguns deles tomam banho de balde nos banheiros do prédio. Outros vão para casa e depois voltam. Recebem alimentos doados pela população e formaram comissões para organizar a rotina do acampamento. Também fazem campanha para pedir doação de dinheiro ao movimento.

    "Vivemos de vaquinha", afirma Gonçalves.

    Nos primeiros dias do protesto, 20 crianças que estavam acampadas junto com os pais foram retiradas da Câmara por orientação do Ministério Público. Agora só adultos permanecem no local.

    De acordo com a assessoria de comunicação da Câmara, uma comissão de vereadores será formada para tentar intermediar a negociação entre servidores e prefeitura. A Câmara entra em recesso a partir de 1º de julho, e as sessões só serão retomadas em agosto.

    A data-base dos servidores é maio, e o piso salarial da categoria é de R$ 1.600. O IPCA acumulado em 12 meses foi de 6,28%. O sindicato pede o pagamento de 8% de reajuste salarial retroativo a janeiro deste ano.

    A secretária municipal de Educação, Neyde Aparecida da Silva, afirma que no momento a prefeitura está impedida de conceder reajustes que tragam impacto orçamentário. Isso porque atingiu o percentual de 54% do orçamento com pagamento de servidores, limite máximo estabelecido pela lei de Responsabilidade Fiscal.

    Silva diz que a administração está à disposição dos servidores para o diálogo e que acatou sugestão do Ministério Público para formar uma comissão permanente de negociação.

    "Entretanto, consideramos fundamental o retorno dos profissionais às suas atividades, visto que a paralisação foi considerada abusiva pela Justiça", afirma, acrescentando que a "constante alteração na pauta de reivindicações do grupo grevista representa uma dificuldade para a análise das solicitações".

    De acordo com a secretária, nos últimos quatro anos os professores tiveram aumento salarial de 65,6% e recebem um auxílio-locomoção de R$ 253, reajustado em 26,5% em janeiro.

    Os profissionais que atuam em sala de aula recebem gratificação de R$ 345. Há previsão no plano de carreira para aumento de 4% a cada biênio, 10% a cada quinquênio e gratificação por titulação que vai de 5% a 50%, diz a secretária.

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