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    Falta de registro dificulta combate à dengue no Brasil

    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    29/06/2014 02h00 Erramos: o texto foi alterado

    O número de casos de dengue no Brasil pode ser até dez vezes maior do que o registrado oficialmente, segundo clínicos e infectologistas ouvidos pela Folha. Só neste ano, até o último dia 14, foram 590.004 notificações, de acordo com o Ministério da Saúde.

    No país, é obrigatório notificar a pasta dos casos confirmados e suspeitos da doença.

    O problema é que há excessiva burocracia e, em alguns casos, faltam sintomas específicos para confirmar a doença e os exames comprovatórios não são realizados.

    Com isso, autoridades de saúde não conseguem planejar adequadamente as ações de controle do Aedes aegypti, mosquito que transmite a doença pela picada.

    "Com registro correto, é possível direcionar as ações de controle do mosquito para uma região, avaliar tendência de crescimento ou declínio da doença, estruturar a rede de assistência e ver se os programas implantados estão dando resultado", diz Rodrigo Angerami, da Sociedade Brasileira de Infectologia e um dos 15 médicos ouvidos.

    Para Luiz José de Souza, presidente da Sociedade de Clínica Geral do Rio, as notificações estão muito aquém da realidade.

    "No atendimento público, são tantos casos de suspeita que os médicos não têm tempo para registrar todos. É preciso multiplicar por dez", diz.

    Na rede privada não é diferente. Segundo Caio Rosenthal, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, os médicos particulares não têm o hábito de notificar os casos.

    Como o tratamento é simples, repouso e hidratação, muitas vezes ele é prescrito sem que seja feito um exame.

    Além disso, muitos doentes nem sabem que foram infectados, já que os sintomas podem se parecer com os de outras doenças, diz Alexandre Schwarzbold, especialista em doenças infecciosas.

    BUROCRACIA

    Um dos entraves para os registros é a burocracia, dizem os médicos. Uma das fichas cadastrais tem mais de 60 itens. "Não há tempo para o médico fazer o atendimento e preenchê-la, com fila de espera de pacientes", diz o infectologista Filipe Prohaska.

    Uma das soluções apontadas é a mobilização de equipes exclusivas para o registro. É o que acontece no Hospital das Clínicas de São Paulo.

    "Toda suspeita de dengue é repassada para o núcleo de vigilância, que preenche a ficha. Não há subnotificações", diz Izabel Marcilio, responsável por esse setor.

    Segundo a Secretaria de Estado da Saúde de SP, são investidos cerca de R$ 50 milhões anuais para auxiliar os municípios no combate à dengue, doença que deve continuar mesmo no inverno.

    Dados do ministério mostram que o Estado tem 247.209 casos notificados de dengue -12.531 casos e dez mortes até o dia 26 na capital paulista.

    O Ministério da Saúde nega que haja subnotificação e afirma que destinou R$ 363 milhões para o aprimoramento das atividades de prevenção e controle da doença nos municípios, dos quais R$ 53,6 milhões para sedes da Copa.

    No mundo, estima-se que o número de infectados pode chegar aos 390 milhões, número três vezes maior do que o registrado pela OMS (Organização Mundial da Saúde.

    DANIELA BERNARDI, MARILICE DARONCO e REBECCA VICENTE são trainees do Programa de Treinamento em Jornalismo de Ciência e Saúde, patrocinado pela Pfizer

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