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    Rio de Janeiro

    Polícia procura terceira vítima de PMs que mataram menor no Rio

    OSNI ALVES
    DO RIO

    07/07/2014 14h16

    Um terceiro adolescente também foi vítima dos PMs que apreenderam dois menores no centro do Rio, no último dia 11, e levaram-nos para o alto do morro do Sumaré, onde foram baleados. Um dos jovens, Mateus Alves dos Santos, 14, não resistiu e morreu.

    A informação foi dada pelo delegado Rivaldo Barbosa, titular da DH (Delegacia de Homicídios) do Rio, durante a reconstituição do crime, na manhã de segunda-feira (7).

    "Existe um terceiro jovem que foi levado com os outros dois no carro da polícia, mas conseguiu convencer os PMs de que trabalhava e foi liberado antes dos outros dois serem baleados", disse Barbosa. Segundo o delegado, a polícia já tem informações para localizar essa testemunha nos próximos dias.

    Barbosa também afirmou que o inquérito do caso será encaminhado à Justiça nas próximas semanas, e que o sobrevivente M., 15, que tomou um tiro na perna, de pistola, e um nas costas, de fuzil, foi essencial para o investigação.

    M. participou da simulação desta segunda, que começou no centro da cidade, onde ele foi apreendido com os outros dois menores, e seguiu para o morro do Sumaré (zona norte).

    Durante toda a reconstituição, o adolescente usava um capacete com uma câmera acoplada, para registrar a ação a partir de seu ponto de vista. "É para capturar áudio e vídeo e constar nos autos da investigação", disse o perito Denilson Siqueira, da Polícia Civil.

    RELEMBRE O CASO

    Mateus e M. foram apreendidos por dois policiais militares em uma rua do centro do Rio, na manhã do último dia 11, colocados em um carro da polícia e levados para um matagal no morro do Sumaré, próximo à casa do cardeal d. Orani Tempesta, arcebispo do Rio.

    Ali, os dois foram baleados quatro vezes pelos policiais. M. foi o primeiro alvejado, levando um tiro de fuzil pelas costas e outro, de pistola, na perna direita.

    "Ele [PM] me chutou, mas não me mexi, fingi de morto", relatou o jovem à Folha.

    "Depois, puxaram o outro garoto de dentro do carro. Quando me viu, se desesperou e começou a gritar, mas tomou dois tiros e caiu em cima de mim, morto", disse. Os dois se conheciam apenas de vista.

    Assim que os policiais se afastaram, M. saiu de baixo do corpo de Mateus, levantou-se e amarrou um casaco na perna, atravessada pela bala. O tiro de fuzil também cruzou seu corpo, deixando um furo pelas costas.

    O adolescente saiu de dentro da mata e começou a descer a ladeira do Sumaré; no caminho, procurou auxílio em três estabelecimentos, mas não o ajudaram. "Disseram que não poderia ficar ali, porque a polícia voltaria." Os comerciantes também deram a entender que a região é ponto de desova (ocultação de cadáveres).

    Em busca de socorro, M. caminhou até o morro do Turano, na zona norte. Um menino o levou a uma igreja, onde limparam seus ferimentos e ligaram para sua família. Seu pai o buscou no pé do morro e o levou ao hospital municipal Souza Aguiar.

    De volta à sua casa, utilizou o Facebook para informar a outros garotos da comunidade o que havia acontecido, e recebeu a informação de que um adolescente da Maré estava sumido. Um dos internautas entrou em contato com uma tia de Mateus, Aline dos Santos, que foi à casa de M. e ouviu o relato do sobrevivente no sábado (14). Acompanhada de seu marido e de mais um tio do jovem assassinado, procurou a Delegacia de Homicídios na segunda-feira (16).

    Encontraram o corpo de Mateus no Sumaré no mesmo dia. O pai do garoto o identificou no local. "Mesmo que ele tivesse feito algo errado, deveria ter sido levado à DPCA [Delegacia de Proteção à Criança e Adolescente]", disse o pai, Tyago Virgínio dos Santos, auxiliar de obras.

    Suspeitos do crime, os cabos Fábio Magalhães Ferreira, 35, e Vinícius Lima Vieira, 32, foram presos e ficarão ao menos 30 dias em uma unidade prisional da PM, à disposição da Justiça. A corporação não informou se eles já têm advogado.

    M., que parou de estudar ao completar a sexta série no ano passado, disse à Folha que estava "dando um rolê", quando foi apreendido. Contou que ele e Mateus estavam tranquilos até chegar ao Sumaré. "Ali vimos que iam fazer maldade", disse.

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