• Cotidiano

    Monday, 29-Apr-2024 20:04:07 -03

    Câmara aprova leitura obrigatória da Bíblia em escolas de Nova Odessa (SP)

    LUCAS SAMPAIO
    ENVIADO ESPECIAL A NOVA ODESSA (SP)

    16/07/2014 02h00

    A leitura da Bíblia pode se tornar obrigatória nas escolas municipais de Nova Odessa, cidade de 55 mil habitantes a 122 km da capital paulista.

    Para isso, basta que o prefeito sancione um projeto de lei aprovado pela Câmara Municipal que impõe aos alunos do 1º ao 5º ano a leitura de um versículo bíblico por dia.

    O projeto, que pode atingir 4.000 alunos de 12 escolas, divide os moradores da cidade e é considerado inconstitucional por juristas ouvidos pela Folha.

    "O povo só quer saber de coisa errada. Quem sabe estudando a Bíblia não melhora?", diz o motorista Luiz Vidal, 63.

    "A religião não deveria entrar no currículo escolar", discorda o administrador Mauro Facioli, 57.

    Para a advogada Amanda Assunção, "a Bíblia não ensina nada de ruim, mas é preciso respeitar as diferenças".

    Segundo o vereador Vladimir Antônio da Fonseca (SDD), autor do projeto, "a intenção foi a melhor possível".

    Ele, que é evangélico, diz que a leitura do livro "não se contrapõe à ideia de Estado leigo ou laico" e "não desafia os valores consagrados na Constituição".

    Mas, para os especialistas, a lei, se aprovada, será inconstitucional, porque fere a liberdade de crença.

    "A escola pública é laica e não pode ter influência de religiões", diz Odete Medauar, professora da Faculdade de Direito da USP.

    "Não se pode impingir essa obrigação aos professores e alunos porque fere a liberdade religiosa e a diferenciação entre Estado e igreja", concorda Antonio Carlos Rodrigues do Amaral, ex-presidente da Comissão de Direito Constitucional da OAB/SP.

    O prefeito de Nova Odessa, Benjamim Bill Vieira de Souza (PSDB), ainda não decidiu se vai vetar ou sancionar a lei.

    "O projeto não é ruim. É bom. A Bíblia é um dos livros mais lidos do mundo", diz o prefeito. "Só a parte da obrigatoriedade é que acaba criando um transtorno."

    O tucano afirma ter pedido um parecer da Secretaria de Educação e do setor jurídico sobre a legalidade do projeto aprovado, para "ver o que a gente pode fazer para melhorá-lo".

    A OAB-SP reforçou a inconstitucionalidade do projeto, mas disse que só discutirá alguma medida contra a lei caso ela seja sancionada.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024