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    Vídeo revela ligação de PMs com morte de jovem no Rio

    DE SÃO PAULO

    20/07/2014 23h29

    Um vídeo da câmera de uma viatura da PM tornou-se peça fundamental na investigação da morte de um adolescente, no dia 11 de junho, no Rio de Janeiro, após sua apreensão por dois policiais militares.

    Nas filmagens, reveladas pelo programa Fantástico, da TV Globo, neste domingo (20), os cabos Fábio Magalhães Ferreira, 35, e Vinícius Lima Vieira, 32, aparecem perseguindo dois adolescentes por ruas do centro do Rio. Os jovens seriam suspeitos de praticar roubos na região.

    Durante a perseguição, um terceiro adolescente, que veste uma camisa preta, também é apreendido. Nas filmagens é possível ouvir um dos policia dizer que ele foi pego "pois estava olhando".

    Com os três na caçamba e com calma, um dos PMs diz "vamos lá em cima, soltar uns tiros?". Ao chegar no alto do morro do Sumaré, próximo à casa do cardeal d. Orani Tempesta, arcebispo da cidade, os Pms param a viatura em um matagal.

    A câmera é desligada. Cerca de dez minutos depois a câmera é religada, e os adolescentes não estão mais na viatura. Logo depois, os PMs descem a ladeira do Sumaré e encontram o jovem de camiseta preta e o ameaçam. "Se a gente ouvir alguma fofoca do que aconteceu aqui, nós iremos atrás de você".

    A câmera ainda mostra os PMs liberando o jovem em uma rua na Lapa, no centro do Rio.

    Sobrevivente

    Um dos jovens deixado no alto do Sumaré revelou o que ocorreu quando a câmera fora desligada.

    No matagal, os dois foram baleados quatro vezes pelos policiais. M. foi o primeiro alvejado, levando um tiro de fuzil pelas costas e outro, de pistola, na perna direita.

    "Ele [PM] me chutou, mas não me mexi, fingi de morto", relatou o jovem à Folha.

    "Depois, puxaram o outro garoto de dentro do carro. Quando me viu, se desesperou e começou a gritar, mas tomou dois tiros e caiu em cima de mim, morto", disse. Os dois se conheciam apenas de vista.

    Assim que os policiais se afastaram, M. saiu de baixo do corpo de Mateus, levantou-se e amarrou um casaco na perna, atravessada pela bala. O tiro de fuzil também cruzou seu corpo, deixando um furo pelas costas.

    O adolescente saiu de dentro da mata e começou a descer a ladeira do Sumaré; no caminho, procurou auxílio em três estabelecimentos, mas não o ajudaram. "Disseram que não poderia ficar ali, porque a polícia voltaria." Os comerciantes também deram a entender que a região é ponto de desova (ocultação de cadáveres).

    Em busca de socorro, M. caminhou até o morro do Turano, na zona norte. Um menino o levou a uma igreja, onde limparam seus ferimentos e ligaram para sua família. Seu pai o buscou no pé do morro e o levou ao hospital municipal Souza Aguiar.

    De volta à sua casa, utilizou o Facebook para informar a outros garotos da comunidade o que havia acontecido, e recebeu a informação de que um adolescente da Maré estava sumido. Um dos internautas entrou em contato com uma tia de Mateus, Aline dos Santos, que foi à casa de M. e ouviu o relato do sobrevivente no sábado (14). Acompanhada de seu marido e de mais um tio do jovem assassinado, procurou a Delegacia de
    Homicídios na segunda-feira (16).

    Encontraram o corpo de Mateus no Sumaré no mesmo dia. O pai do garoto o identificou no local. "Mesmo que ele tivesse feito algo errado, deveria ter sido levado à DPCA [Delegacia de Proteção à Criança e Adolescente]", disse o pai, Tyago Virgínio dos Santos, auxiliar de obras.

    Suspeitos do crime, os policiais foram presos e ficarão ao menos 30 dias em uma unidade prisional da PM, à disposição da Justiça. A corporação não informou se eles já têm advogado.

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